O cachorro Trovão, que foi atacado por capivaras no Lago Paranoá na tarde desse sábado (8/6), precisou passar por uma cirurgia de três horas para se recuperar do ferimento de 15 centímetros nas costas causado pelas mordidas de capivaras. O cão apresentou uma melhora significativa, mas ainda não tem previsão de alta para retornar para casa.
“No dia que aconteceu a situação, quando a gente colocou a blusa para estancar o sangue, porque o Trovão estava perdendo muito sangue, estavam saindo pedacinhos de carne. Porque na hora que a capivara morde, ela volta rasgando, aí acabou rasgando todo o tecido muscular dele. Ele ficou bem machucado lá dentro”, relata a tutora Cristhiani Oliveira, de 33 anos.
De acordo com ela, o cachorro só voltou a se alimentar corretamente após vê-la: “Ele ainda está com muita secreção, com esse processo infeccioso. A capivara tem muitas doenças e foi muito fundo. A gente está nesse processo de tirar todo tipo de infecção e drenar todo o sangue que tá bem acumulado ainda. Ele está bem inchado ainda, por isso que ainda não tem previsão de saída dele”.
Além de Trovão, a cadela Panda também foi atacada, mas seu estado é menos grave. Ambos os cães são de raça american staffordshire terrier. O ataque aconteceu nos arredores da Ermida Dom Bosco. “A panda está comigo, está mais quietinha, mas graças a Deus tá recuperando bem da cirurgia dela que ela fez aqui embaixo da face”, contou Oliveira.
Por volta das 15h do sábado, Cristhiani Oliveira decidiu passear com o irmão e uma sobrinha. A família levou a cadela Panda e o cão Trovão. O grupo saiu da 28 do Lago Sul, bairro nobre do DF, e encontrou com os animais silvestres na Ermida Dom Bosco.
“Meu irmão sempre leva os cachorros para eles nadarem na região longe das residências. Nunca tivemos problemas. Também nunca tivemos esse contato com elas. Estava tudo bem, tranquilo. Minha sobrinha até ficou encantada, mas falei para ela não se aproximar. Mas minha cachorra se aproximou pela água”, contou Cristhiani.
Neste momento, segundo a tutora, os roedores teriam começado o ataque. Tentaram levar Panda para uma parte mais funda e ainda rasgaram o pescoço e machucaram uma das patas da cachorra. Diante da cena, Trovão pulou na água para salvar a cadela.
Trovão afastou os animais de Panda, mas passou a ser o alvo dos ataques. “Ele foi dilacerado nas costas. Ele está com uma dentada de 15 centímetros de profundidade, fora o risco de contaminação por doenças. Arregaçaram ele por dentro. Estava saindo carne de dentro dele. Jorrava muito sangue”, lamentou a tutora.
Alguns roedores avançaram contra a sobrinha de Cristhiani. A família conseguiu fugir e levou os cães feridos para da clínica veterinária CEV, no Jardim Botânico. Panda recebeu tratamento e pontos no ferimento. O quadro de saúde da cadela é bom e ela voltou para casa. Mas a situação de Trovão chegou a ser considerada crítica.
A família registrou boletim de ocorrência na Polícia Civil do DF (PCDF). Após vivenciar os momentos de terror, Cristhiani defende que o GDF adote medidas para evitar episódios semelhantes, como ações de controle e monitoramento da população de capivaras. Mas também conscientização da sociedade.
“Vão esperar um tragédia acontecer para fazer alguma coisa? É preciso fazer o alerta. Hoje são os meus cachorros. Podia ter sido a minha sobrinha. Amanhã pode ser uma criança ou um adulto. Elas são agressivas em uma quantidade cada vez maior. E a gente não vê nada”, alertou.
Além dos ataques, Cristhiani ressaltou que os animais silvestres podem ser vetores de doenças e pragas, como carrapatos. A tutora já precisou desembolsar de quase R$ 10 mil na clínica veterinária para o tratamento de Trovão. A preocupação é tentar salvar o cachorro.
O Metrópoles tentou contato com o GDF sobre o caso. A Secretaria do Meio Ambiente (Sema) informou que avalia a situação da população silvestre pelo Projeto de Monitoramento e Identificação das Capivaras na Orla do Lago Paranoá, em parceria com a Universidade Católica de Brasília (UCB).
Segundo a pasta, um estudo de 2023 apontou que os roedores ocupam 25% da Orla do Lago Paranoá. A pasta garantiu que busca a convivência pacífica entre a população e a fauna silvestre. Os estudos também apontaram uma baixa relação entre animais silvestres e carrapatos.
Leia a nota completa do Ibram:
“O Instituto Brasília Ambiental por meio da Superintendência de Unidades de Conservação, Biodiversidade e Água no tema abordado sendo de responsabilidade da gerência de fauna, esclarece que é fundamental abordar com cautela acerca da responsabilidade dos ataques serem ligados diretamente às capivaras. É crucial entender que tais episódios geralmente ocorrem quando o animal se sente acuado ou quando há filhotes envolvidos, não sendo um comportamento habitual da espécie atacar outros animais sem provocação.
Neste contexto, também é importante averiguar o papel dos tutores dos cães, verificando se os animais estavam soltos e sem coleira, o que poderia ter contribuído para a situação.
O Brasília Ambiental, juntamente com a Secretaria do Meio Ambiente (SEMA) e outras pasta do GDF já esta elaborando um edital de chamamento para dar continuidade ao monitoramento da população de capivaras iniciado em 2022. Este novo edital pretende expandir as vertentes de pesquisa, incluindo possíveis estratégias de manejo dos animais, caso seja identificada tal necessidade. Inclusive, recentemente o Brasília Ambiental realizou uma consulta pública aberta a população para debater o tema, em 17/4/2024 (Participe da Consulta Pública sobre Projeto de Monitoramento das Capivaras no DF – Brasília Ambiental (ibram.df.gov.br).
É importante destacar os resultados do estudo anterior, que indicaram a ausência de superpopulação de capivaras na orla do Lago Paranoá. Outro dado relevante, foi que as análises realizadas mostraram uma relação fraca entre a abundância de carrapatos e a presença de capivaras na região (Fonte – IBRAM). Isso sugere que elas não são os principais vetores de pragas ou doenças na área.
A política pública do GDF para qualquer tipo de controle dessa população será baseada no monitoramento e na pesquisa, garantindo um equilíbrio ecológico e a convivência entre os animais e os moradores. Medidas para evitar novos incidentes consistem basicamente na conscientização dos residentes em evitar espaços com esses animais e seus pets. Retirar um animal do seu ambiente natural não deve ser a principal medida a ser adotada em situações de conflitos pontuais, mas sim a compatibilização harmoniosa entre as partes. Este tema é de extrema relevância para a comunidade e estamos comprometidos em garantir a segurança e o bem-estar de todos os envolvidos”.