A rotina do servidor público brasiliense Rafael Carvalho (foto em destaque), 41 anos, ficou marcada por um feito inédito na carreira dele como corredor amador. Auditor da Receita Federal, o morador da Asa Norte percorreu um trajeto de 217km em 33 horas.
A maratona, na BR-135, começou às 6h de 11 de janeiro e terminou por volta das 15h do dia seguinte. Praticante do esporte há 20 anos, Rafael ficou em sexto lugar na corrida, que é classificatória para a mais importante competição da modalidade no mundo, a Badwater 135.
A corrida de 217km começa em Águas da Prata (SP) e termina em Aparecida (SP). O primeiro colocado, um norueguês, concluiu o percurso em 29 horas. O caminho, geralmente feito como forma de peregrinação, tem a maior parte das estradas sem asfalto – e que viram lama quando chove.
Assista ao momento da chegada de Rafael:
A equipe “Vamu Correr”, da qual Rafael faz parte, é formada pela esposa do servidor público, Carolina Carvalho; pelo treinador, Marialdo Rodrigues; além de contar com outros corredores.
O grupo o acompanhou no trajeto em um carro 4×4, ajudaram-no e até chegaram a correr com o atleta em alguns trechos. O veículo e o grupo ficaram preparados para qualquer tipo de situação que pudesse ocorrer e equipados com itens como comida, água e kit de primeiros-socorros. “Essa corrida te desafia, não só pelo lado esportivo. Há um desafio mental, logístico. Eu treinei por ao menos 20 anos para ela”, contou.
Pausa só para água e banheiro
Rafael começou a correr após terminar a faculdade de engenharia mecânica, em 2003. Ele chegou a trabalhar na França, mas, meses depois, mudou-se para São Paulo. As mudanças de cidade abriram espaço para um novo hobby, que se transformou em uma atividade física acessível para ele.
“Essa é uma das grandes vantagens da corrida, a praticidade e simplicidade. Dá para praticar em qualquer lugar, em qualquer clima”, destacou.
Com o tempo, o engenheiro começou a participar de maratonas e a estabelecer metas. A melhora das performances levou a distâncias maiores. No início, Rafael corria 30 quilômetros; agora, chega a 200.
Os treinos e a rotina mudaram, e a atividade se tornou mais intensa. Às vezes, o servidor público corre duas vezes por dia, mas já chegou a se exercitar por 17 horas praticamente seguidas, como forma de preparação. “Eu começo meia-noite e corro o dia inteiro. Só paro para beber água e ir ao banheiro”, detalhou.
Rafael competiu pela primeira vez em prova de 217km e ficou em sexto lugar
Metáfora para a vida
Rafael comentou que, apesar de ser amador, o esforço é contínuo – mesmo que tenha bastante tempo até a próxima maratona. “O pessoal costuma perguntar: ‘Você correu [recentemente] e já está treinando de novo?’. Claro. O trem saiu para a próxima estação, não pode parar. É igual a andar de bicicleta: não se pode parar, senão ela cai”, comparou.
O servidor público comentou, porém, que nem tudo ocorre com tranquilidade e há dificuldades pelo caminho, de vez em quando. “A corrida tem altos e baixos. Ela é um paralelo muito forte da vida real. Há momentos em que você está bem; outros, não. Adversidades e imprevistos surgem, e saber lidar com tudo isso faz parte da vida e do treinamento”, avaliou.
Usar o esporte como metáfora para a eventos da vida é algo que Rafael leva como filosofia. Para ele, a corrida se tornou um propósito. “Eu a vejo como uma jornada; há estações e o destino final. E a vida é como um trem: você pode até parar em uma estação ou outra, mas ele continua. A viagem é constante. E ele está sempre andando”, completou.
Corrida mais difícil do planeta
A ultramaratona da BR-135 é uma das poucas que ocorrem pelo mundo e servem como eliminatória para a Badwater 135, considerada a corrida mais difícil do planeta. No entanto, apenas o primeiro colocado é classificado para disputar o desafio.
Apesar de também ter um percurso de 217km, a Badwater 135 começa em um vale de 85 metros e termina em uma altura de mais de 2,5 mil metros acima do nível do mar.
A disputa ocorre no Vale da Morte, no deserto de Mojave, na Califórnia (EUA), região que registra algumas das maiores temperaturas da Terra. Além disso, os organizadores da maratona escolhem o dia mais quente do ano para ocorrer a prova. No deserto, as temperaturas podem facilmente superar os 60°C, e a umidade relativa do ar fica frequentemente abaixo dos 10%.
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Ainda em busca do sonho de encarar o desafio, Rafael vai tentar a classificação por meio de outra ultramaratona, em março: a Badwater Cape Fear, na Carolina do Norte.
A distância é mais curta – 82km –, mas o percurso ocorre na areia e, ao contrário do Vale da Morte, as temperaturas são bem menores.
“Minha mãe brinca e diz: ‘Meu filho, você inventa cada coisa’”, conta Rafael. “Mas minha esposa acompanha esses sonhos. Espero que consigamos viabilizar a vaga para a Carolina do Norte e levar o Brasil para a Badwater 135, em 2025.”
Quem quiser acompanhar, apoiar ou patrocinar o projeto “Vamu Correr”, pode acessar o Instagram da equipe pelo link @vamucorrer.