Para pagar uma dívida milionária com o governo federal, a família do magnata Djalma Rezende vendeu a Ferrari vermelha F8 Spider, conversível, que constava no espólio da herança. O carro de luxo foi vendido pela bagatela de R$ 3,5 milhões para arcar com a renegociação fiscal (Refis), do Ministério da Fazenda, que com juros estava em R$ 1,8 milhão.
A venda do carro ficou acertada em três parcelas, todas pagas em junho de 2023. A primeira foi no valor de R$ 140 mil; a segunda em R$ 1 milhão e a terceira em R$ 2,4 milhões. O acordo judicial era de que após abater a dívida o resto do montante ficasse para o espólio, sendo dividido para os seis herdeiros do patrimônio.
“O valor obtido com a venda deverá ser utilizado exclusivamente para a quitação da dívida negociada no programa REFIS, devendo a inventariante prestar contas nestes autos, promovendo o depósito do saldo remanescente em conta judicial, no prazo de 30 dias”, conforme a ordem judicial no processo do inventário, que era administrado pela então viúva de Djalma, Priscila Maura Rezende.
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Os demais herdeiros cobraram o cumprimento da decisão em novo processo para destituir a madrasta dos filhos como a responsável por gerenciar o inventário. De acordo com o processo, R$ 850 mil teriam sido pagos em espécie, mas nunca foram depositados no inventário e também não houve prestação de contas por parte da inventariante.
As graves acusações fizeram com que em outubro, Priscila perdesse a responsabilidade de gerir o espólio milionário. Na decisão, o juiz de direito Eduardo Walmory Sanches, destacou que a viúva “não se preocupou sequer em cumprir uma simples determinação judicial para juntada de extrato de conta que permitiria ao juízo verificar se a mesma cumpriu com exatidão a ordem judicial”, conforme consta em processo, o que, segundo o juiz, revela “evidente falta de zelo pelos bens do espólio e o descumprimento de determinação judicial”.
A briga não é à toa. A herança estimada é de R$ 50 milhões e o espólio apresenta artefatos de luxo como uma Land Rover Range Rover Vogue 3.0 blindada, um Porsche Panamera, imóveis em condomínio de luxo, mobílias desenhadas por Oscar Niemeyer, quadros e esculturas de artistas brasileiros e europeus. Djalma tinha esculturas de um dos mais importantes nomes brasileiros: Alfredo Ceschiatti – responsável pela obra da Justiça cega em frente ao Supremo Tribunal Federal. Também consta na coleção serigrafia de Romero Britto e peça da artista Bia Dória, mãe do ex-governador João Dória (PSDB-SP).
“Competia a inventariante trazerao processo o extrato de movimentação da conta provando que houve a entrada do dinheiro e asúnicas saídas de numerário foram exclusivamente para o pagamento do REFIS, conformedeterminação judicial.Optou a inventariante em não trazer, em não apresentar a prova em juízo, descumprindo adeterminação judicial e assumindo o ônus dessa conduta omissa. Consoante se observa, essa omissão revela evidente falta de zelo pelos bens do espólio e odescumprimento de determinação judicial. Sua remoção é medida necessária para retomada dobom andamento do processo”, consta em determinação.
A defesa de Priscila destacou que não há qualquer controvérsia sobre a venda do veículo e que a viúva, em um um momento de luto, assumiu o difícil ônus de ser inventariante do espólio, conduzindo com ética e transparência. (Veja a nota na íntegra abaixo).
Família em “pé-de-guerra”
A briga familiar pela herança não é novidade. Em junho de 2023, o Metrópoles mostrou as rixas envolvendo os herdeiros de um dos profissionais mais ricos de Goiás, conhecido até como “Júnior Friboi da advocacia”, Djalma deixou uma herança milionária.
Parentes dizem que Priscila Maura teria bloqueado todos os filhos de Djalma das redes sociais após a morte do marido. Dos cinco filhos, dois são menores de idade. Familiares afirmam que, desde a morte do pai, os mais novos não têm recebido o valor referente à pensão.
Em 2016, Djalma e Priscila se casaram em uma festa luxuosa, com direito a celebridades, menu exclusivo e mais de mil convidados, fazendo jus à fama de bon vivant do noivo. O casamento teria custado cerca de R$ 8 milhões.
A comemoração contou com mais de 70 mil flores, 100 lustres e decoração inspirada no Palácio de Versailles, que transformaram o casamento em um cenário de filme ostentação. O bolo, de 2,5m de altura e 1,20m de base, foi transportado durante 14 horas para chegar à festa. The King Cake, de São Paulo, foi a responsável pela criação, decorada com rendas exclusivas e mais de mil orquídeas de açúcar.
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Djalma chegou a contratar jatinhos particulares para buscar alguns convidados em Brasília. Da capital federal, foram convocados o cerimonialista César Serra, o fotógrafo Celso Junior e o bufê de Celso Jabour, da Sweet Cake. A noiva também usava joias da brasiliense Miranda Castro.
Carros e aviões
Em imagens, Djalma e Priscila ostentam passeios em Ferraris. O apreço pela marca é tão grande que inspirou o design único de um avião luxuoso adquirido pelo advogado goiano e avaliado em R$ 13 milhões. A referência da aeronave modelo Piaggio P180 Avanti II era a Scuderia Ferrari.
À época da compra, a aeronave foi recebida por mais de 200 convidados, em grande festa, com direito a recepção regada a bebida e animada por banda musical.
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O avião não está entre os bens do inventário da família. Isso porque a aeronave foi apreendida pela Receita Federal, anos após a compra. O órgão apurou que, sem o conhecimento do comprador, a empresa que vendeu o veículo aéreo ao advogado teria sonegado impostos.
Antes que o crime fosse identificado, 0 milionário já realizava o pagamento, em parcelas, e teria gastado cerca de R$ 7 milhões no acordo. Após ser confiscada, a aeronave foi destinada ao transporte de órgãos para transplante.
Nota completa da defesa de Priscila Maura Rezende
Não houve qualquer controvérsia sobre a venda do mencionado veículo, isto porque a alienação do bem se deu mediante expressa autorização judicial (pública e transparente), sem qualquer óbice pelos interessados.
A senhora Priscila, em momento de luto, assumiu um difícil ônus de ser a inventariante do espólio do Dr. Djalma Rezende, cujos bens e compromissos financeiros são de grande complexidade, além das inúmeras despesas ordinárias para manutenção dos ativos.
Assim, a Priscila conduziu o cargo de inventariante com retidão, ética e transparência apesar do momento de luto.
Ocorre que, infelizmente, por se tratar de um inventário judicial não consensual, partes com interesses distintos, utilizaram do direito de petição e de questionar, independente de estarem munidas de razão.
Na condição de advogado, informo que a Priscila está, como sempre esteve, à disposição para prestar todo e qualquer esclarecimento quando intimada judicialmente, certa de que seu principal compromisso é com a brilhante história do seu, então, marido, o advogado Djalma Rezende e o legado que deixou, não só como profissional, mas sobretudo como ser humano incrível que ele foi.