A trajetória da brasiliense Patrícia Lélis é marcada por reviravoltas no cenário político e judicial. Com apenas 30 anos, a jornalista já esteve mais de uma vez à frente dos holofotes nacionais ao denunciar ou ao ser denunciada por nomes importantes da política brasileira, como Marco Feliciano, Carlos Bolsonaro, Eduardo Bolsonaro, Carla Zambelli, o Partido dos Trabalhadores (PT) e a Associação Nacional de Travestis e Transexuais (Antra).
Da esquerda à direita, as movimentações de Lélis deixaram rastros que pesam a sua imagem atualmente, os quais são usados em material dentro de processos. Também colaboram como engajamento nas redes sociais. O provável namoro de Patrícia com Eduardo Bolsonaro resultou no apelido “Bananinha” ao filho do ex-presidente. A alcunha jocosa seria em referência ao suposto tamanho do órgão genital do deputado.
Outro resultado do possível relacionamento foi uma série de processos que tramitaram na Justiça. Patrícia fez uma queixa-crime contra Eduardo por suposta ameaça. Em contrapartida, ela foi ré pela Polícia Civil do Distrito Federal por denunciação caluniosa. Os dois processos foram arquivados definitivamente em 2020 e em 2021.
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Em 12 de julho de 2017, Patrícia teria feito a denúncia contra Bolsonaro na Delegacia de Atendimento à Mulher (Deam), e apresentou ameaças proferidas pelo deputado durante troca de mensagens.
O período de 2017 marcava uma guinada de 180º de Patrícia Lélis na carreira política. Em agosto do ano anterior, a jovem, então militante do Partido Social Cristão e autointitulada anti-feministra, também compareceu à Deam para denunciar o deputado pastor Marco Feliciano por assédio sexual e estupro.
Feliciano era o presidente do partido e foi mantido como o líder da sigla em meio às acusações. Já Patrícia foi descredibilizada pela direita e acolhida por movimentos feministas que ela, até então, criticava e chegou a pedir desculpa para o movimento no Congresso Federal.
Com uma nova postura nas redes sociais, Patrícia se filiou ao PT, mas foi expulsa após apresentar declarações consideradas transfóbicas pelo diretório partidário. Nesse momento, a brasiliense processa o ex-partido por danos morais e pede o valor de R$ 50 mil. O tribunal considera improcedente a acusação e arquiva o caso.
Histórias mal contadas
As passagens de Lélis pela Justiça não envolvem apenas pessoas ou partidos reconhecidos. Ela é processada por amigos, ex-namorados e até pela instituição de ensino superior em que se graduou jornalista. Patrícia foi condenada a pagar as quatro mensalidades do curso, no valor de R$ 613,70, com juros e correção monetária.
Professores que lecionaram para Patrícia contaram à reportagem que a fama da brasiliense pelos corredores era de “doidíssima” e de “mentirosa”. Em um depoimento, um docente que preferiu não se identificar contou que Patrícia alegava ter câncer no cérebro quando se aproximavam períodos de avaliação da disciplina. “Assim, ela evitava entregar os trabalhos”, contou. “A turma inteira se compadecia. As pessoas se emocionavam com a história dela”, completou.
Segundo relatos, Patrícia gostava de se passar por uma pessoa abastada financeiramente. “Ela falava que ia sempre para os Estados Unidos. Inclusive disse que casou lá”, detalhou outra pessoa.
Em 2015, Patrícia deu entrevista ao Metrópoles comunicando que se casaria em um dos parques temáticos da Disney, em Orlando, no Castelo da Cinderela. No entanto, responsáveis pelo complexo informaram que a prática não é permitida. As situações, que nunca foram confirmadas, voltaram à tona em posts no Facebook feitos por pessoas que a acusam de mentir.
Um ex-affair de Patrícia, que também não quis ser identificado para evitar de ser associado, atualmente, à moça, destacou que ela teria inventado uma gravidez em 2017. “Quando nosso relacionamento começou a desandar, ela disse que estava grávida. A gente morava em cidades distintas e pedi para que ela fizesse o pré-natal aqui, com médico de referência”, contou.
“No dia anterior ao exame, ela me mandou mensagens com a casa suja e dizendo que tinha abortado. Eu estava no trabalho, corri para levá-la ao hospital, e lá os médicos afirmaram que ela não estava grávida nem teve um aborto”, disse.
Segundo ele, Patrícia começou a persegui-lo. “Ela mandava mensagens para as meninas que eu me relacionava dizendo que eu fui abusivo com ela, agressivo”, detalhou. Ele tem todas as contas fechadas e visualiza os perfis que viram os stories, para ter a certeza de que não está sendo monitorado por ela.
“Até o ano passado, ela me procurava. Já mandou fotos de bebê, falando que eu precisava ir aos Estados Unidos doar medula ao meu filho, coisas que nem tinham como acontecer”, concluiu.
Nessa mesma época, Patrícia teria ficado amiga de Janaina de Toledo. As duas se seguiam nas redes sociais, mas se conheceram pessoalmente em uma viagem em Belo Horizonte.
“Ela é muito simpática, engraçada, e eu estava passando por uma fase ruim e contei tudo para ela; falei dos problemas que tive com meu ex-namorado, que não sabia se ia voltar”, comentou. “Aí a Patrícia me contou que consultava uma cartomante muito boa, de forma on-line, e que acertava tudo; ela me passou o contato”.
Janaina contou que fez a consulta com a cartomante pelo telefone e que foi ótima. Disse o que Janaina queria ouvir. Todavia, já era noite, e ela só poderia fazer transferência eletrônica para a profissional das cartas no dia seguinte.
“Descobri que a conta enviada pela cartomante era da mãe da Patrícia Lélis; ali percebi que ela queria me dar um golpe”. As duas se enfrentam na Justiça até hoje. Segundo Janaina, Patrícia disse que era ameaçada e começou a “inventar” que a ex-amiga fosse “prostituta, cafetina, traficante de drogas”.
“As redes da Patrícia têm muitos seguidores; ela coloca seu nome lá e você recebe linchamento por meses. Eu acho que ela usa as ameaças para estimular engajamento nas redes sociais”, declarou.
Foragida do FBI
Foragida nos Estados Unidos, a jornalista Patrícia Lélis segue ativa nas redes sociais. Após o Metrópoles mostrar que ela é fugitiva do FBI [Federal Bureau of Investigation] há mais de 80 dias, a brasiliense não se controlou e até debochou da polícia federal norte-americana.
Em uma publicação no X (antigo Twitter), Patrícia marca o perfil do FBI e comenta em seguida: “Vocês já foram melhores”. “Primeiro caso no mundo que o FBI não consegue localizar uma pessoa que está sempre na internet”, completa a brasiliense.
Acusações
As acusações contra a jornalista Patrícia Lélis somam 12 páginas, nas quais constam o modus operandi, as intenções, o uso de dinheiro e até a cronologia para aplicar os supostos golpes. O Metrópoles teve acesso aos documentos usados pelo Departamento de Justiça dos Estados Unidos para transformar a brasiliense em ré por fraude eletrônica, transações monetárias ilegais e roubo de identidade agravado.
O documento lista trocas de e-mails enviados por Lélis se passando por pessoas fictícias e até mesmo reais para ganhar confiança de imigrantes. A jornalista teria inventado a figura de Jeffrey Willardsen para se passar por um funcionário de investimento imobiliário do Texas, com o propósito de transmitir segurança à transação e obter dinheiro.
A investigação apurou trocas de e-mail desde 22 de setembro de 2021 até 30 de maio de 2023, com as transferências bancárias para Lélis. Ao todo, ela teria causado prejuízos de US$ 700 mil, o equivalente a R$ 3,4 milhões aos clientes.
Veja:
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Lélis se passava por uma advogada especializada em imigração para conseguir vistos permanentes a brasileiros. Ela teria até mesmo falsificado um documento fundamental para que uma pessoa adquirisse propriedade no estado do Texas.