Aos 49 anos, o ex-cobrador de ônibus Gilberto Arruda subiu ao palco do Centro Comunitário Athos Bulcão da Universidade de Brasília para receber o diploma de médico. Ele se formou no curso mais disputado na UnB na noite dessa sexta-feira (24/5).
“É uma emoção muito grande. É uma vitória celebrar essa conquista”, tentou Gilberto definir o que sentia no momento. “Foram muitas dificuldades, foram dificuldades antes de entrar no curso e depois, para estudar, aprender o que não conhecia, o etarismo”, contou.
Sem parar de sorrir, Gilberto estava cercado de pelo menos 20 familiares que não pouparam balões e faixas para comemorar a conquista do primeiro médico na família.
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“Todos nós só fizemos até o ensino médio e aqui está ele alcançando o pódio”, disse a irmã mais velha, Gilda Arruda, que aos 16 anos ficou responsável pela criação de Gilberto quando ele só tinha 9 e a mãe morreu.
Gilda garantiu um dos momentos mais emocionantes da noite. Em uma surpresa combinada com o cerimonial do evento, ela foi chamada ao palco para entregar um presente ao “doutor” da família.
“Eu comprei um anel de formatura, ele não fazia ideia, mas queria dar esse presente”, contou a irmã que ainda adolescente passou a cuidar dele como filho. A madrasta Rubina também se juntou para criar Gilberto e seus irmãos. Hoje, aos 75 anos, e em uma cadeira de rodas, Rubina não deixou de comparecer. “Não podia perder, é uma emoção muito grande”, completou.
História
O ex-cobrador começou a estudar para fazer uma faculdade após ter sido atropelado por um ônibus, que passou por cima de suas pernas e reduziu a habilidade de locomoção. Foram 14 dias em coma, e o diagnóstico era o de que jamais seria possível voltar a andar.
Aos poucos, o ex-cobrador foi retomando a vida e decidiu que queria fazer uma faculdade. Por cinco anos, estudou para passar na universidade. Em 2018, deu início ao tão esperado sonho. “Eu queria primeiro fazer engenharia, mas a medicina me escolheu”, declarou. Gilberto sonhou com o médico que o operou e sentiu que era uma missão.
“Quero passar para as pessoas que todos têm dificuldades, eu mesmo tive uma série e consegui chegar aqui hoje”, disse, a partir dessa noite, o médico.
A história de Gilberto inspirou outros jovens. Estudante de medicina, Lucas Pucarato, que está no 3º semestre, mas fez questão de comparecer à cerimônia para ver a conquista do futuro colega de profissão. “Motiva a continuar, a querer ir em frente. Eu não o conhecia pessoalmente, só a história e queria dar um abraço nele”, completou.
O exemplo também é dentro de casa. A filha mais velha de Gilberto, Hadassa Arruda, 15, contou que planeja ser médica. “Quero ser igual ao meu pai”, disse.
A dona de casa Helena Moreno, 68, se emocionou tanto com a história de Gilberto que sem conhecê-lo pegou um ônibus do Guará para assistir a formatura. “Cheguei às 15h, não tinha nem o cerimonial ainda”, contou.
“Queria dar um abraço nele, ele é uma pessoa que motiva. Ele é o cara”, completou.
Sem festa
Gilberto colou grau, mas não vai poder participar da festa de formatura, que custa mais de R$ 20 mil. Amigos sugeriram de ele aproveitar a repercussão para pedir um Pix ou fazer uma vaquinha para a festa. Ele, no entanto, preferiu “não misturar as coisas”.
Como carreira, Gilberto contou que tem interesse em seguir no serviço público e que está fazendo concursos para médico legista e também médico da família. “A medicina legal me chama a atenção porque permite levar Justiça. Já a a medicina da família é a porta de entrada das pessoas”.