“Eu poderia estar chorando o aniversário da morte do meu filho, mas hoje só tenho a agradecer por ele estar vivo nesse dia”. Para a a servidora pública Luciane Garcia, 8 de maio de 2022 – data em que foi comemorado o Dia das Mães naquele ano – sempre será lembrado como o dia em que ela viu o primogênito ter a segunda chance de viver.
Há dois anos, Pedro Miguel Rodrigues Cardoso, 17 anos, celebrava o feriado ao lado da família, quando foi atingido por um pinheiro de 20 metros, no Parque da Cidade, e ficou tetraplégico. No local, ele chegou a sofrer uma parada cardiorrespiratória por cerca de 10 minutos, mas teve o quadro revertido.
A data foi lembrada pela família do adolescente em um hospital particular de Taguatinga. Pedro está internado há cerca de três semanas para tratar uma infecção. Esta é a terceira internação dele desde o ano passado. A previsão é que ele receba alta nos próximos dias, segundo Luciane.
“Comecei a ficar um pouco triste, mas aí lembrei que ele tá vivo. A gente só tem a agradecer a Deus. A parte cognitiva dele está perfeita. Ele está muito tranquilo. Então, isso tudo nos alegra, porque eu poderia estar chorando a morte do meu filho, inclusive, o aniversário de morte dele. Ele tá estável e eu posso comemorar esse dia com ele”, exalta a servidora pública.
A família tinha expectativa de celebrar o Dia das Mães deste ano em casa, mas Pedro ainda precisará ficar mais alguns dias internado. Contudo, para Luciane, não deixa de ser uma data especial.
“Estou comemorando a vida dos meus três filhos. Hoje significa mais do que sempre significou. Pedro olha para mim e fala: ‘Mamãe, eu te amo. Você é a minha princesa’. É como se eu fosse mãe dele duas vezes. Eu fui mãe pela primeira vez, perdi meu filho, e ele voltou. Então, para mim, ao mesmo tempo que tem a recordação ruim, é a lembrança boa, porque ele me foi devolvido nesse dia”, explica a mulher.
Assista ao vídeo do Pedro no hospital:
Mãe luta por home care
Desde que aconteceu o acidente, a rotina da família de Pedro mudou completamente. Por conta do quadro clínico, Luciane e o marido lutam na Justiça para que o Governo do Distrito Federal (GDF) e a Companhia Urbanizadora da Nova Capital (Novacap) arquem com as despesas do tratamento do jovem.
O adolescente é totalmente dependente dos pais e precisa de acompanhamento em tempo integral. Atualmente, para cuidar dele, os familiares contam com um técnico de enfermagem cedido pelo CBMDF, que cuida dele 12 horas por dia.
“Eles estão fornecendo por questão de empatia mesmo com a situação. A gente precisa muito do home care para o Pedro, porque podem tirar a qualquer momento esse técnico, e ele precisa de alguém para tudo”, diz.
Segundo a servidora pública, eles já acumulam uma dívida de mais de R$ 160 mil com o plano de saúde.
“Nosso convênio com o Corpo de Bombeiros Militar do DF é uma benção, mas é por coparticipação. Então, a gente paga 20% de todos os gatos. Hoje, nós acumulamos uma dívida comprovada de R$ 161 mil com o plano de saúde. Só a primeira internação dele ficou em quase R$ 1 milhão”, expõe Luciane.
O Metrópoles teve acesso a uma liminar de agosto de 2023, na qual a Justiça do DF determinou que o GDF e a Novacap eram obrigados a implantar, com urgência, o serviço de home care integral e cama motorizada para Pedro, no prazo de cinco dias.
Mesmo com duas multas diárias de R$ 1 mil, limitadas a R$ 20 mil cada uma, aplicadas posteriormente, uma em outubro do ano passado e a outra em março deste ano, os réus continuam sem cumprir com a liminar.
“No processo, primeiro eles disseram que tinham que fazer visita domiciliar, mas que alegaram que não constava nosso endereço no processo. Anexamos novamente o endereço, até que, depois de muita enrolação, foram lá em casa. Nisso, eles se manifestaram dizendo que o Pedro Miguel não tinha direito a home care, por causa de um dispositivo da norma”, detalha.
Apesar disso, o advogado de defesa da família do jovem contra-argumentou essa manifestação. “O GDF é responsável pelo o que aconteceu, então eles têm que providenciar. Disseram que estavam fazendo licitação pra ver se conseguiam o home care. Mas eles têm obrigação de cumprir e pronto, porque é uma liminar”, argumenta a mãe de Pedro.
Retratos Luciane Garcia. Brasília (DF) 08/05/24. Foto: Vinícius Schmidt/Metrópoles
Retratos Luciane Garcia. Brasília (DF) 08/05/24. Foto: Vinícius Schmidt/Metrópoles
Retratos Luciane Garcia. Brasília (DF) 08/05/24. Foto: Vinícius Schmidt/Metrópoles
Retratos Luciane Garcia. Brasília (DF) 08/05/24. Foto: Vinícius Schmidt/Metrópoles
Retratos Luciane Garcia. Brasília (DF) 08/05/24. Foto: Vinícius Schmidt/Metrópoles
Retratos Luciane Garcia. Brasília (DF) 08/05/24. Foto: Vinícius Schmidt/Metrópoles
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Rotina comprometida
Quando aconteceu o acidente, o jovem à época com 15 anos tinha acabado de ingressar no primeiro ano do ensino médio. Por conta dos meses de internação, Pedro não conseguiu concluir o ano letivo e, em 2023, mesmo estando pronto para voltar a estudar de casa, nenhuma escola procurada pela família disponibilizou o ensino remoto.
A solução encontrada pela família, até então, é que ele conclua o ensino médio com supletivo, apenas quando completar 18 anos.
“A gente tá em casa com a rotina comprometida, não temos mais a vida social de antes. É muito difícil fazer tudo o que a gente fazia antes, porque ele não tem sustentação na coluna e não aguenta ficar muito tempo sentado. A logística para levá-lo à escola todos os dias é praticamente impossível”, lamenta Luciane.
Ao longo desse último ano, a servidora pública também buscou fisioterapia especializada para o filho, mas sem sucesso. Pedro ficou internado na Rede Sarah para estudarem o caso dele e, também, já foi atendido no Centro Especializado em Reabilitação de Taguatinga
“O problema é que todos esses tratamentos são ofertados com base no prognóstico, e como eles não acreditam que o Pedro vai melhorar, não podem fazer nada. Também tentamos no Hospital de Apoio de Brasília, mas negaram por causa da alta demanda”, alega.
Luciane avalia que, no momento, a assistência do Estado com as despesas médicas seria imprescindível. “O GDF tem falhado há dois anos, todos os dias, com o meu filho. Pedimos que eles arcassem com o custo do home care, com as dívidas do plano e com uma pensão de três salários mínimos. Com isso, ele já teria tido uma melhora significativa na qualidade de vida”, argumenta.
O que diz o GDF e a Novacap
Por meio de nota, a Secretaria de Comunicação do Distrito Federal informou que os prazos estabelecidos para a Novacap foram cumpridos integralmente no processo. “Informa ainda que, quanto à determinação contida na decisão, trata-se de demanda alheia à competência da Companhia”, pontuou.
Questionado sobre a assistência ao adolescente, o GDF não se manifestou sobre o assunto. O espaço segue aberto.