A Polícia Civil do RJ investiga uma série de crimes cometidos pela facção criminosa Comando Vermelho que dificulta a elucidação sobre o desaparecimento dos meninos Lucas Matheus, de 9 anos, Alexandre Silva, de 11, e Fernando Henrique, de 12, em 27 de dezembro de 2020, no bairro Castelar, em Belford Roxo, na Baixada Fluminense.
Durante dez meses de investigação, dois assassinatos e três desaparecimentos indicam, para investigadores da polícia carioca, que o Comando Vermelho decidiu punir pessoas consideradas responsáveis pelas mortes dos meninos. Quatro desses crimes aconteceram de uma semana para cá.
São investigados os desaparecimentos e mortes de:
- Willer Castro da Silva, o Stala, gerente do tráfico de drogas do Castelar – teria sido executado no Complexo da Penha
- Leandro Alves de Oliveira, o Farol, gerente do tráfico do Castelar– Polícia investiga se é dele um corpo carbonizado achado em um carro
- Homem conhecido como Guil, que irmão da traficante Ana Paula da Rosa Costa – Polícia investiga se é dele um corpo carbonizado achado em um carro
- Ana Paula da Rosa Costa, outra responsável pelo tráfico no Castelar- Investigação apura informação que ela foi morta, esquartejada e seu corpo carbonizado no Complexo da Penha
- José Carlos Prazeres da Silva, o Cem ou Piranha, principal chefe do tráfico no Castelar – teria sido executado a tiros. Corpo ainda não foi encontrado.
As crianças
Os amigos Lucas Matheus, Alexandre Silva e Fernando Henrique saíram de suas casas pouco depois das 10h da manhã de um domingo, 27 de dezembro de 2020. Foram brincar num campo de futebol ao lado do condomínio onde viviam e nunca mais foram vistos.
A última imagem das crianças, que costumavam perambular pelas ruas da região sozinhos, foi registrada às 13h39 daquele dia, na Rua Malopia, no barro vizinho da Areia Branca.
O inquérito instaurado para investigar o caso está em fase de conclusão na Delegacia de Homicídios da Baixada Fluminense (DHBF).
Dez meses depois, a Polícia Civil não tem mais dúvidas de que os três foram mortos pelo tráfico do Castelar. A principal suspeita é de que a motivação para a barbaridade tenha sido o furto de uma gaiola de passarinhos.
“Quem matou os meninos da Baixada foram os traficantes do Castelar. Desde o início, a gente tinha esse linha como a mais forte, mas também a gente tinha outras linhas que, durante a investigação, foram sendo descartadas”, disse o secretário da Polícia Civil, Allan Turnowski em 9 de setembro no RJ2.
Mortes que atrapalham a polícia
Na esteira dessas investigações, no entanto, está uma série de outros crimes – homicídios e ocultações de cadáveres – cometidos para que a polícia jamais consiga elucidar o desaparecimento das crianças.
Para um policial civil, que pediu para não ser identificado, o crime tem regras e a morte das crianças pelo furto de passarinho não é aceitável.
O primeiro desaparecimento investigado foi Willer Castro da Silva, o Stala, gerente do tráfico de drogas do Castelar. As investigações indicam que em 11 de janeiro deste ano, ele e outros dez traficantes torturaram um homem dentro da favela.
Depois, o grupo obrigou moradores a levarem o homem até a 54ªDP (Belford Roxo), com pés e mãos amarrados e com um cartaz de papelão escrito: “Suspeito do desaparecimento das três crianças pego por moradores do Castelar”. Todos foram indiciados pela Delegacia de Homicídios da Baixada Fluminense (DHBF) por tortura e corrupção de menores.
Stala acabou executado no Complexo da Penha. Para os investigadores, a execução foi a mando de Edgar Alves de Andrade , o Doca, uma dos chefes do CV. A polícia acredita que morte está diretamente ligada ao caso dos meninos. No bairro da Penha, circula uma outra versão, de que Stala havia sido morto por uma dívida de R$ 4,8 mil.
Ao lado de Doca está Wilton Carlos Rabello Quintanilha, o Abelha, principal chefe da facção nas ruas. Ele foi solto após um erro cometido pela Secretaria de Administração Penitenciária (Seap), mesmo tendo um mandado de prisão em aberto, no final de julho passado. O caso gerou uma investigação da Polícia Federal e resultou na prisão do então secretário, Raphael Montenegro – que responde em liberdade.
Há um mês, após as declarações de Turnowski de que a cúpula da facção tinha conhecimento do crime cometido contra os meninos, os traficantes começaram a se movimentar tentando comprovar que não tinham dado aval para a barbárie.
Em conversas com jornalistas e em recados enviados à própria polícia, seguiam negando que as crianças haviam sido mortas no Castelar. Diante das evidências, inclusive uma gravação telefônica em poder da DHBF – em que um traficante fala para o outro que ele “nem quis bater” nos meninos – o tráfico teria instalado seu próprio tribunal. E é esse quebra-cabeça que a Polícia Civil tenta montar agora.
Corpos em carros
Na terça-feira (5), o corpo de um homem foi encontrado dentro de um carro carbonizado na Rua São Paulo, altura do número 1005, no bairro Vilar Novo, em Belford Roxo. A polícia acredita que seja de Leandro Alves de Oliveira, o Farol, apontado como gerente do tráfico do Castelar.
Dois dias depois, na quinta-feira (7), mais um corpo foi encontrado em outro carro carbonizado. Desta vez na Estrada do Babi, número 75, no bairro São Francisco, também em Belford Roxo. A DHBF apura a informação de que o corpo pertence a um homem conhecido como Guil. Ele seria irmão da Ana Paula da Rosa Costa, a Tia Paula, apontada como uma das responsáveis pelo tráfico do Castelar.
Em ambos os casos, no entanto, só será possível confirmar as identidades após exames de DNA.
Fonte: G1.