Preso na Penitenciária Federal de Brasília (DF) desde o fim de janeiro de 2023, o espião a serviço do regime de Vladimir Putin Sergey Vladimirovich Cherkasov (foto em destaque), 37 anos, precisou ser isolado de outros detentos após se sentir ameaçado pelo segundo escalão da facção paulista Primeiro Comando da Capital (PCC).
O Metrópoles apurou que o russo chegou a informar às autoridades que integrantes do PCC sabiam quem ele era e o que tinha feito. As informações teriam partido de uma publicação em revista que circulou na prisão. Os policiais penais, então, decidiram colocar o interno em uma ala isolada.
Sergey foi preso pela Polícia Federal (PF) em São Paulo. Ele usava uma falsa identidade brasileira para tentar se infiltrar no Tribunal Penal Internacional (TPI), em Haia, na Holanda. O serviço secreto do país europeu informou que o espião levou 12 anos para construir a identidade falsa — de Viktor Muller Ferreira, 33, nascido em Niterói (RJ).
A inteligência da Holanda também comunicou que Sergey trabalhava para a GRU, o Departamento Central de Inteligência da Rússia. O serviço é o maior do país, ligado às forças armadas e conta, inclusive, com operações no exterior.
Os holandeses decidiram dar publicidade ao caso para evidenciar estratégias da inteligência russa que põem em risco instituições internacionais, como o TPI.
Por meio de nota, o serviço secreto holandês comunicou que, se o espião tivesse conseguido entrar no tribunal, poderia coletar informações, recrutar fontes e ter acesso a sistemas digitais da Corte, que investiga possíveis crimes de guerra cometidos pela Rússia – e por Putin – na Ucrânia.
No Brasil
Documentos que integram uma investigação do Federal Bureau of Investigation (FBI), a polícia federal dos Estados Unidos, revelaram que o espião simulava morar na capital do Brasil; por isso, frequentava bares, restaurantes e boates locais.
O espião costumava afirmar que teria se mudado para Brasília em 2010 e se hospedado em uma pensão de baixo custo, onde pagava cerca de R$ 550 por mês. Entre aulas de português e andanças pela capital da República, Sergey dizia ter se apaixonado pela culinária brasileira, principalmente por restaurantes que servem comida a quilo
Ele teria chegado ao Brasil em 2010. Depois, já com a identidade falsa, morou nos Estados Unidos e na Holanda, onde tinha conseguido uma vaga de estágio no TPI, também conhecido como Corte Penal de Haia.
Além do alerta, os holandeses compartilharam com órgãos de inteligência e investigação do Brasil todas as informações obtidas.
O governo brasileiro passou a saber, desde então, que, por trás dos documentos falsos, havia um suspeito apontado pelo país europeu como um espião russo que tentava se infiltrar no tribunal penal, um caso de evidente repercussão internacional.
A estratégia do Brasil, porém, foi de manter o caso sob sigilo. Contudo, após a prisão do russo, e diante do silêncio do Estado, o próprio serviço secreto da Holanda emitiu um comunicado, no qual anunciou ter desmascarado o agente.