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Golpista preso que se inspirava em Lobo de Wall Street chega ao Brasil

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O primeiro preso extraditado da Operação o Lobo de Wall Street chegou a Brasília por volta das 17h20 dessa quinta-feira (1º/2) em um voo da companhia aérea TAP, entre Lisboa e Brasília.

A ação, coordenada pela 9ª Delegacia de Polícia (Lago Norte), revelou uma organização criminosa que, sediada em Portugal, fazia vítimas no Brasil por meio do golpe dos falsos investimentos na bolsa de valores (Ghost-Brokers).

O grupo se inspirava no filme O Lobo de Wall Street para ludibriar as vítimas, e algumas chegaram a perder R$ 1 milhão.

Devido às investigações, o homem chegou a integrar a lista de difusão vermelha da Interpol. Como os criminosos estavam sediados em Lisboa, Portugal, os mandados de prisão foram cumpridos naquele país.

Desde então, os presos aguardavam os processos de extradição que correm em autos apartados intermediados pelo Ministério da Justiça.

O preso foi conduzido à ala federal do complexo da papuda. Os demais presos ainda estão em Portugal, aguardando as próximas ordens de extradição.

“Depois de quase um ano de investigação e muito trabalho, tivemos a satisfação de recepcionar um dos criminosos já na saída do avião. Não conseguimos recuperar todos os ativos desviados das milhares de vítimas espalhadas por todo o Brasil, mas que pelo menos elas possam ter um pouco de paz e a satisfação de que algo foi feito. Os responsáveis não saíram ilesos”, disse o delegado Erick Sallum.

Operação

Com apoio operacional da Organização Internacional de Polícia Criminal (Interpol), a 9ª Delegacia de Polícia (Lago Norte) cumpriu, em 7 de março de 2023, em Lisboa, Portugal, seis mandados de prisão preventiva com bloqueio de contas bancárias, sequestro de criptoativos e derrubada de sites. O chefe da quadrilha foi detido no Aeroporto de Frankfurt, na Alemanha, ao tentar fugir.

A polícia apurou que um tcheco morador de Lisboa montou um escritório de fachada em Portugal, registrado como empresa de publicidade. Contudo, a verdadeira atividade do negócio era vender falsos investimentos na bolsa de valores, por meio de empresas fantasmas de corretagem.

O call center da organização criminosa era distribuído em quatro sedes e empregava centenas de brasileiros, geralmente imigrantes ilegais. A contratação exclusiva desse público decorria, também, da necessidade de pessoas que falassem português fluente, pois o grupo assediava e buscava seus alvos apenas no Brasil.

Os contratados para trabalhar no escritório tinham a função de ligar para brasileiros e oferecer opções de investimento. Os investigadores verificaram que o grupo usava todo tipo de argumento para convencer as vítimas a entrar no mercado de valores e fazer aplicações que supostamente gerariam altas rentabilidades com garantia.

As vítimas enganadas começavam a investir nas ações indicadas pelos criminosos, mas, diferentemente do prometido, sempre perdiam tudo. Desesperadas, elas eram incentivadas a fazer novos investimentos, na esperança de reverter o prejuízo.

“Ocorre que os novos investimentos também geravam outras perdas, alimentando uma bola de neve. Depois de [fazerem as vítimas] perderem todas as economias e se endividarem ainda mais em bancos, quando não tinham mais um centavo para aplicar, os criminosos cortavam os contatos telefônicos, e elas ficavam sem ter a quem recorrer”, afirma o delegado Erick Sallum.

Páginas falsas

Para dar aparência de legitimidade e fazer as vítimas acreditarem se tratar de um investimento real, os criminosos montaram diversas páginas de empresas fictícias na internet; entre elas, Paxton Trade, Ipromarkets, Ventus Inc, Glastrox, Fgmarkets, 555 Markets e ZetaTraders.

Os sites eram bem estruturados, o que dava a impressão de pertencerem a empresas idôneas. As vítimas se cadastravam nas páginas e, depois, usavam um aplicativo para fazer os supostos investimentos. No entanto, esses recursos financeiros nunca realmente chegavam ao mercado de valores.

Tudo não passava de uma simulação. Todo o dinheiro depositado nas contas das supostas empresas era desviado para contas pessoais dos criminosos. As vítimas pensavam ter perdido tudo na bolsa de valores; muitas nem sequer sabiam que o esquema era um golpe.

“A investigação mapeou, pelo menos, 945 pessoas, mas sabe-se que existem muitas mais. Foram encontradas vítimas que perderam R$ 1,5 milhão ou, também, todas as economias da vida. Alguns gastaram dinheiro que seria usado para tratamento de câncer de familiares, e outros, todo o dinheiro recebido de heranças. Diversas vítimas tiveram rompimento de casamentos e laços familiares. Várias [entraram] em depressão, com tendências suicidas”, detalha o delegado.

Lobo de Wall Street

O delegado à frente das investigações revelou que obteve diversas provas do ambiente que predominava na empresa. A figura de Jordan Belfort — O Lobo de Wall Street — era venerada. Em festas da empresa, havia grande ostentação de riqueza e premiações aos melhores “vendedores”.

Nos grupos de WhatsApp da empresa, os “gerentes” incentivavam os “vendedores” a ver o filme protagonizado por Leonardo Di Caprio e eram sistematicamente induzidos ao mesmo comportamento. O lema na empresa era: “Pensem em vocês e suas famílias, esqueçam as vítimas”.

A fim de enganar as vítimas brasileiras, os criminosos usavam aplicativos que mascaravam os números internacionais. Isso porque sabiam que ligar desses telefones para assediar brasileiros teria baixa eficácia.

Ao simular números com o código de área 61, do Distrito Federal, os investigados conseguiam que as vítimas atendessem à primeira ligação.

Com uso da mesma tática, agentes da PCDF recorreram ao mesmo aplicativo escolhido pelos criminosos para simular números portugueses. Isso fez com que os funcionários da empresa atendessem às ligações da Polícia Civil, ocasião em que foram intimados a prestar esclarecimentos por videoconferência.

Difusão vermelha

Após comprovada a fraude, a PCDF representou pela prisão preventiva dos líderes e pediu emissão de red notice à Interpol — o alerta de “difusão vermelha” autoriza a captura de pessoas em qualquer país conveniado e a publicação de fotos delas como “procurados”.

Esse foi o primeiro pedido do tipo deferido pela Justiça brasileira à Polícia Civil com a organização criminosa em atividade.

Todas as contas bancárias dos envolvidos em território nacional, bem como em exchanges — plataformas digitais de negociação — internacionais de criptomoedas, foram congeladas.

Os criminosos foram indiciados por fraude eletrônica, organização criminosa, lavagem de dinheiro e evasão de divisas, cujas penas somadas ultrapassam 50 anos de prisão.

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