Home Brasília Outros candidatos passaram mal no TAF do concurso da PM. Veja relatos

Outros candidatos passaram mal no TAF do concurso da PM. Veja relatos

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Mesmo se preparando há meses para cumprir com as exigências do Teste de Aptidão Física (TAF) para o ingresso na Polícia Militar do Distrito Federal (PMDF), Gabriela Rosa dos Santos Gontijo (foto em destaque), 27 anos, teve um mal súbito durante a avaliação e morreu no dia seguinte ao exame. A jovem, no entanto, não foi a única que passou mal nessa etapa do certame, organizado pela banca Instituto AOCP.

O Metrópoles conversou com outros candidatos do concurso, que relataram o mal-estar após e até mesmo durante a prova. “Quando eu saí, tinha uma menina indo embora em uma cadeira de rodas”, disse uma participante da seleção feminina, que preferiu não se identificar.

Chrystian Oliveira, 26 anos, já havia feito provas TAF para concurso para Polícia Militar de Santa Catarina e para Polícia Penal de Goiás, mas foi na do DF que se sentiu mal. “Depois da prova senti vontade de vomitar. Não sei se pelo estresse e a tensão”, disse.

A adrenalina do teste é uma das grandes dificuldades no exame. “É uma prova que mexe com a vida dessas pessoas, que só pode ser feita até os 30 anos e que quem está lá está dando tudo de si para participar”, disse um dos participantes, que preferiu não ser identificado, mas que teve contato com Gabriela no exame.

Veja fotos de Gabriela:


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“Ela começou a prova, fez a barra, abdominal e não tinha tempo de comer ou beber qualquer coisa”, destacou. “A prova permitia acesso a bebedouro, mas não era próximo ao local, o que dificultava também. O ideal era fornecer a água lá mesmo”.

Morte no TAF da PMDF: saiba o que banca exigiu na etapa do concurso

“Tem gente com deslocamento de ombro, outras pessoas que também precisaram de socorro. É um nível de acidente que nunca vi antes”, comentou o participante.

Nas redes sociais, outras pessoas também contaram experiências ruins no exame. “Eu vi uma menina com aparência de falecida na maca quando estava entrando na corrida”, declarou um internauta. “Observei muitas candidatas passando mal durante a corrida”, replicou outro em publicação sobre a morte de Gabriela.

Um dia antes do acidente com Gabriela, uma outra jovem também desmaiou, Em um grupo do Telegram, colegas pediram oração a essa segunda vítima que precisou ser reanimada por uma equipe de saúde.

Mais mortes

Mortes durante a etapa do TAF infelizmente não são incomuns. Em fevereiro de 2023, o jovem Alone Petrus Leite morreu, aos 30 anos, após passar mal durante o teste de aptidão física do concurso da Polícia Militar do Amapá (PM-AP). Ele era candidato a uma vaga de soldado na corporação. Em 2018, o administrador Leonardo da Silva Oliveira também morreu, aos 31, durante a mesma etapa do Concurso da PMDF.

O TAF é uma fase comum em concursos para a área de segurança pública, como polícias Militar, Civil, Legislativa Rodoviária Federal e Federal, bombeiros, agentes penitenciários, Forças Armadas e, também, para cargos cuja habilidade física é essencial para atender às atribuições de trabalho.

De acordo com o edital do concurso da Polícia Militar, para estar apto a participar do teste de aptidão física, o candidato precisava obter, no mínimo, 60% da pontuação máxima da prova objetiva. Além disso, não poderia zerar a pontuação nas áreas de conhecimento de língua portuguesa ou de Legislação Específica Aplicada à PMDF e obter 10 pontos ou mais na redação.

Tal etapa do TAF exigiu dos candidatos teste de barra, flexão abdominal, corrida e natação.

Veja os parâmetros para aprovação:

Teste dinâmico em barra fixa (masculino)

Mínimo de 6 repetições.

Teste dinâmico em barra fixa (feminino)

Mínimo de 15 segundos de suspensão.

Teste de flexão abdominal – Tipo Remador (ambos os sexos)

Mínimo de 35 repetições para homens;
Mínimo de 28 repetições para mulheres.

Teste de corrida de 12 minutos (ambos os sexos)

Mínimo de 2.400 metros percorridos em 12 minutos para homens;
Mínimo de 2.200 m percorridos em 12 minutos para mulheres.

Teste de natação (ambos os sexos)

Mínimo de 50 metros percorridos em até 1 minuto, para homens;
Mínimo de 50 metros percorridos em até 1 minuto e 10 segundos, para mulheres.

Conforme consta no edital do concurso PMDF, não há segunda chamada para a realização do TAF e, por isso, o candidato que não comparecer ao local e no horário indicado, é eliminado do certame. Quem não conseguiu completar os exercícios no tempo estipulado também perdeu a chance de conquistar uma vaga na corporação.

O concurso PMDF, porém, prevê a possibilidade de reaplicação do TAF para candidatas gestantes. Para isso, é necessário apresentar no local o atestado que comprove a gravidez ou o estado de puerpério.

Nesse caso, o TAF da candidata será suspenso e a mesma continuará participando das demais fases do certame. O teste da candidata será realizado após o período que varia entre 120 e 180 dias, a contar da data do parto ou fim do período gestacional.

Atividades físicas regulares

Ao Metrópoles Viviane Siqueira, tia da Gabriela, contou que a jovem praticava atividades físicas regularmente e que não tinha problemas de saúde de conhecimento prévio. “Ela treinava com um professor particular havia ao menos três meses. E, mesmo antes disso, ela praticava corrida com o noivo, no Parque da Cidade. Ela estava nadando, correndo e fazendo academia”, detalhou.

A tia contou que a sobrinha começou a se sentir mal perto dos 100 metros finais da prova de corrida. “A respiração dela estava muito baixa, e a intubaram [quando foi atendida], mas ela chegou [à unidade de saúde] com a pressão arterial e o nível de saturação [o oxigênio] baixíssimos. O esforço que ela fez para conseguir chegar ao fim da corrida foi muito grande. E a prova ocorreu por volta as 15h30, o que pode ter contribuído [para ela passar mal]”, acredita Viviane.

Na Justiça por um leito

Inicialmente, Gabriela foi levada para a Unidade de Pronto Atendimento (UPA) do Núcleo Bandeirante; de lá, acabou transferida para o Hospital Daher, no Lago Sul. A jovem chegou a ser internada na unidade de terapia intensiva (UTI), em estado gravíssimo, mas não resistiu.

“Ficamos na UPA a madrugada toda, aguardando por um leito de UTI. E entramos com uma ação judicial para conseguirmos um, que só foi liberado no fim da manhã de ontem [segunda-feira]”, lamentou a tia.

A jovem era formada em direito e trabalhava como assessora de uma juíza em Goiás. O sonho de Gabriela era ser aprovada no concurso da PMDF. A advogada ainda estava com casamento marcado para setembro.

“Ser aprovada no concurso era algo que ela queria muito. Gabriela era uma pessoa maravilhosa, prestativa, superfamília, temente a Deus, estudiosa. Eu poderia listar inúmeras qualidades dela”, destacou Viviane.

Polícia Civil investiga morte

A Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF) investiga o caso. O chefe da 10ª Delegacia de Polícia (Lago Sul), Wisllei Salomão, à frente das investigações, comentou que o corpo de Gabriela passou por exame no Instituto de Medicina Legal (IML), que produzirá laudo para apontar as causas da morte.

Em grupos nos aplicativos WhatsApp e Telegram com concurseiras da PMDF, colegas de concurso fizeram orações pela jovem e, após receberem a notícia da morte, lamentaram o ocorrido. “Que sentimento horrível. [Ela era] tão cheia de sonhos. Isso me quebra”, disse uma participante.

Por meio de nota, a PMDF informou lamentar “profundamente o ocorrido” e se solidarizou com parentes e amigos da candidata.

“Com relação ao Teste de Aptidão Física (TAF), cabe esclarecer que todos os aspectos que envolvam a aplicação das provas são de responsabilidade da banca examinadora. Não houve qualquer participação da Polícia Militar do Distrito Federal durante os dois dias do TAF”, destacou a corporação.

Atestado de aptidão para teste

O Instituto AOCP, banca organizadora do certame, lamentou “profundamente” o ocorrido, reiterou o pesar pela morte de Gabriela e prestou “as mais sinceras condolências aos familiares e amigos de Gabriela dos Santos Gontijo”. Além disso, destacou que a jovem iniciou a prova de corrida às 16h40, em Taguatinga, onde ocorria o teste físico.

“Antes do término da prova, a candidata teve um mal súbito e foi imediatamente atendida pela equipe médica que acompanhava a etapa, que realizou o devido atendimento de emergência e a transportou totalmente assistida até uma unidade de atendimento de saúde, onde foi devidamente hospitalizada, com a liberação da equipe”, destacou o instituto, por meio de nota.

O instituto acrescentou que uma das regras do edital de abertura do concurso exigia de todos os candidatos aprovados a apresentação de atestado médico que comprovasse aptidão para “realizar esforços contidos nos testes físicos previstos”. A jovem apresentou o atestado de aptidão física assinado por um cardiologista de Samambaia Norte, segundo a banca, “que a declarou apta para esta fase da seleção”.

“A organizadora do concurso informa que a aplicação dos testes físicos observou as disposições contidas na Lei [Distrital] nº 4.949/2012 e que, durante o período em que os candidatos aguardaram a realização das provas, eles puderam usar os bebedouros do local, bem como não havia qualquer restrição quanto à possibilidade de alimentação. O local de realização da etapa respeitou todas as regras, estava em ordem com todos os equipamentos usadas nos testes e ainda teve sua estrutura elogiada por outros candidatos”, completou o Instituto AOCP.

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