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Ditadura armou acidente de carro para ocultar morte de homem torturado

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Era uma manhã de fevereiro de 1970, durante a ditadura militar, quando a dona de casa Elza Souza de Alcântara foi avisada por vizinhos que o seu marido estava sendo velado na capela nº 1 do Cemitério Campo da Esperança, em Brasília. O corpo do bancário Abelardo Rausch de Alcântara apresentava hematomas, marcas de queimadura, feridas variadas, o braço esquerdo quebrado e o rosto estava inchado e enfaixado.

Três homens de terno entraram na casa da família Alcântara e se apresentaram como funcionários da Caixa Econômica Federal no dia anterior. Abelardo, que atuava como militante da associação de funcionários, foi levado. Depois, as informações repassadas aos parentes davam conta de que ele prestava apenas depoimento em uma delegacia em Taguatinga, mas o homem estava no Pelotão de Investigações Criminais (PIC), localizado no Batalhão de Polícia do Exército de Brasília.

Na época, a Secretaria de Segurança Pública do Distrito Federal indicou que Abelardo fora convocado para prestar esclarecimentos sobre uma ocorrência de roubo à agência bancária onde trabalhava. Confrontado com provas incriminatórias, ele teria tentado suicídio e foi imediatamente socorrido pelo serviço médico do Batalhão de Polícia do Exército.


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A versão oficial, divulgada pelas autoridades, relata que, durante o transporte para o hospital, a ambulância com o bancário bateu fortemente contra outro veículo oficial da própria Secretaria de Governo do Distrito Federal, em frente ao Palácio do Buriti. Ele teria morrido na hora, justamente por conta do acidente de trânsito.

De acordo com a Comissão Nacional da Verdade (CNV), porém, Abelardo Rausch Alcântara morreu aos 42 anos por conta de torturas realizadas por agentes do Estado, enquanto estava sob a tutela do Pelotão de Investigações Criminais (PIC).

A versão oficial não se sustentaria e apresenta inúmeras contradições. Além dos hematomas típicos de ações de tortura na época, um dos pontos é que o próprio registro do acidente ocorrido em frente ao Palácio do Buriti sequer faz menção a Abelardo Rausch. Ou seja, o documento que registra os envolvidos e vítimas não mostrou que o bancário estava presente no veículo.

Provas importantes para o esclarecimento do caso sumiram e matérias da imprensa na época fazem menção a um laudo independente, que destacava pontos não mencionados no laudo anterior produzido pelo IML. Inclusive, para a Comissão Especial sobre Mortos e Desaparecidos Políticos, o motorista do veículo colidido pela ambulância do Exército afirmou que não tinha dúvidas de que o carro que dirigia foi atingida de propósito pela ambulância.

Centros de tortura

O Pelotão de Investigações Criminais (PIC), situado dentro do Batalhão de Polícia do Exército de Brasília, é considerado, na capital federal, um dos principais centros de tortura e assassinatos contra opositores do regime ditatorial, iniciado com um golpe que completou 60 anos domingo passado (31/3). Além do espaço, a CNV aponta a existência de outros cinco endereços onde ocorreram graves violações de diretos humanos no período:

Batalhão de Guarda Presidencial
DOI-Codi (Brasília)
Departamento Geral de Investigação e Dops – Delegacia de Polícia Federal
Ministério da Marinha
Ministério do Exército
Pelotão de Investigações Criminais (PIC)

Crimes dentro do PIC

Relatos das vítimas dão conta da existência de uma sala reservada apenas para as torturas, que serviam, conforme as gírias dos militares, para “arrepiar” os presos.

Havia espancamentos generalizados, choques elétricos, afogamentos e até mesmo a aplicação do “pau de arara”, uma barra de ferro, sobre dois cavaletes, onde o preso ficava dependurado enquanto era agredido.

Em depoimento à Comissão Anísio Teixeira de Memória e Verdade da Universidade de Brasília (CATMV-UnB), a militante Maria José da Conceição disse que, em todas as noites que passou presa, escutou gritos de pessoas sendo torturadas no PIC. Durante o período vivido dentro do batalhão, ela estava grávida e sofreu aborto devido às agressões.

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