Em entrevista, Joaquim Leite, ministro do Meio Ambiente do Brasil, ressalta os
principais pontos defendidos pelo Brasil na COP 27, realizada no Egito, e diz que o país é parte da solução global no combate às mudanças climáticas.
Um país dono de uma das matrizes energéticas mais limpas e renováveis do mundo,
que é uma das maiores potências agrícolas do planeta e que, não apenas detém a
maior floresta tropical do mundo, como trabalha para preservá-la e para, em breve,
tornar-se um dos maiores exportadores de créditos de carbono do globo. Esse é o
retrato do Brasil que o ministro do Meio Ambiente, Joaquim Leite, apresenta ao
mundo durante a participação do país na 27ª Conferência das Nações Unidas sobre
Mudança do Clima, a COP 27, realizada em Sharm El-Sheik, no Egito, e que se encerra
na sexta-feira (18.11).
Como o Brasil chegou para a COP 27 e quais as mensagens o país pretende passar
para a comunidade internacional no Egito?
Ministro Joaquim Leite – O Brasil chega cobrando dos países desenvolvidos o
financiamento que foi comprometido há vários anos e que até hoje não virou realidade
para os países em desenvolvimento. Os números já passam de um trilhão de dólares de financiamento para que a gente possa criar uma nova economia verde e neutra de
emissões. Esse é um desafio global e o Brasil participa desse desafio trazendo soluções
climáticas lucrativas para desenvolver essa nova economia verde, especialmente junto
ao setor privado.
Um dos pontos mais destacados na COP 27 pelo Governo brasileiro é a força do país
na geração de energia limpa e sustentável. Como isso se encaixa nas pautas
debatidas no Egito e nesta nova economia verde que está se formando no planeta?
Joaquim Leite – O Brasil é um exemplo para o mundo, com praticamente 85% da sua
matriz elétrica renovável. O mundo tem um desafio de energia hoje. Estamos vivendo
uma crise energética devido ao conflito na Ucrânia e o Brasil pode ser parte da solução
global. O Brasil tem uma matriz plural, diferente dos outros países. O que nós
trouxemos dessa conferência aqui no Egito, na COP 27, é o Brasil das energias verdes.
Que é isso? Biomassa, solar, eólica. Isso tudo em terra. A gente tem um potencial
excedente de 100 gigawatts de instalação. Além disso, temos uma área ainda
inexplorada, que é a eólica no mar. São 700 gigawatts de energia eólica no mar. Só
para se ter uma ideia, o Brasil hoje tem uma capacidade instalada de 180 gigawatts.
Uma Itaipu tem 12 gigawatts. Então, o potencial (da eólica offshores) é de
praticamente 50 Itaipus do mar.
Outro ponto muito ressaltado é força da agroindústria brasileira, que contribui de
forma determinante para garantir a segurança alimentar no planeta. Como o senhor
analisa o papel do Brasil neste setor?
Joaquim Leite – A agricultura tropical brasileira é a agricultura convencional mais
regenerativa do mundo. O Brasil bate recordes ano a ano de produção. O último
recorde foi esse ano mesmo, com 312 milhões de toneladas (de grãos). É por essa
característica de produção brasileira tropical, com muita tecnologia, que nós temos a
agricultura mais sustentável do mundo. A agricultura brasileira vai ser parte da solução
para absorver carbono da atmosfera. Num futuro muito próximo, você vai medir os
cultivares não somente pela produção de sacos de soja, de milho, mas pelo volume de
carbono que ele absorve da atmosfera e fixa no solo. O Brasil deve continuar nessa
direção de produzir mais, usando menos recursos naturais e absorvendo carbono da
atmosfera.
O Brasil fechou na COP 27 um acordo voltado para a proteção de florestas tropicais
com a Indonésia e o Congo, formando um bloco dos países com as maiores florestas
tropicais do mundo. Como foi costurado esse acordo?
Joaquim Leite – Nós entendemos que é a melhor forma de você proteger a floresta é
fazer com que ela tenha valor econômico, valor contábil, valor monetário. Assim, você
consegue remunerar quem cuida de floresta. Esses três países têm um volume
relevante de florestas tropicais no mundo e precisam ser reconhecidos e remunerados
por essa atividade. Uma atividade de proteger a floresta tem que ter valor econômico
e, assim, desenvolver a região com essa atividade de proteção. Eu vou estar morando
nessa região e sendo remunerado por isso.
Como se dá a inserção do Brasil nesta nova economia verde global?
Joaquim Leite – O Brasil nessa nova economia verde trabalha em três pilares: energia
renovável 100% limpa e barata, agricultura mais regenerada do mundo, e exportação
de crédito de carbono para empresas e países poluidores. O grande desafio do mundo
hoje é gerar energia limpa em abundância. Do outro lado, temos o fator da comida. O
Brasil tem uma agricultura regenerativa, que fixa carbono no solo, e tudo isso pode ser
acelerado pela receita extraordinária de crédito de carbono. O mecanismo de crédito
de carbono é um indicador de desempenho que traz receitas extraordinárias a projetos
que aconteceriam no futuro e podem acontecer hoje no presente do Brasil.
O Brasil vai se tornar uma super superpotência verde?
Joaquim Leite – O Brasil é a superpotência verde do mundo hoje. O Brasil traz aqui
para essa Conferência do Clima um Brasil real, um Brasil que já produz com a menor
pegada de carbono do mundo, um Brasil que já produz energia com 85% dessa matriz
renovável. Então, nós temos que mostrar ao mundo que nós somos parte da solução.
SECOM – PR