Após uma grávida passar por 30 horas em trabalho de parto, a bebê que ela esperava morreu no Hospital Regional de Samambaia (HRSam) no domingo (21/4). Segundo a família, houve erro e negligência médica.
A secretária Bruna dos Santos Martins (foto em destaque), de 31 anos, começou sentir contrações às 5h de sábado, e às 8h buscou o hospital. O parto, por cesárea, porém só ocorreu às 17h51 de domingo (21/4).
Veja:
“Esperaram minha filha morrer na barriga de minha mulher para tirar”, lamentou o motorista de construtora Felipe Augusto Gomes dos Santos, de 32. A criança, Manuele, era a primeira filha do casal.
Ao chegar ao hospital na manhã de sábado, o médico aferiu os batimentos cardíacos da criança e constatou que estavam normais. Mas não havia dilatação. Bruna e Felipe receberam orientação para voltar para casa.
Depois do almoço, o casal voltou ao hospital. Após nova avaliação, os médicos disseram que estava tudo bem, mas só havia 1 centímetro de dilatação. Novamente receberam orientação para retornar para casa.
Felipe e Bruna ficaram monitorando as contrações. Na madrugada de domingo, voltaram novamente para o hospital público. O coração de Manuele batia tranquilamente. A dilatação estava em 4 centímetros. Bruna foi internada.
Dores
O casal foi acomodado em um quarto do centro obstétrico. Na manhã de domingo, mais uma vez um médico analisou o quadro e constatou o coração um pouco acelerado. Os pais ficaram preocupados.
Felipe relatou que o médico recomendou que Bruna deitasse de lado. Cerca de 40 minutos depois, outro médico voltou e teria dito que estava tudo sob controle. “Eu perguntei. E ele disse que estava tudo certo”, lembrou.
Por volta do meio-dia, Bruna começou a sentir fortes dores e estava muito fraca. “Ela pediu para ajudarem ela. Mas eles passaram soro como oxitocina para o processo de dilatação. Enquanto isso, minha esposa sofria”, contou.
A criança estava torta
De acordo com Felipe, Bruna não conseguia mais deitar na cama. Passou a ficar em pé para aguentar as dores. Por volta das 17h40, a dilatação estava em 10 centímetros.
“Minha esposa não tinha forças. Ela pedia ajuda. Ela precisava da cesárea. Aí um dos médicos falou: a criança está torta. Invés de pararem para a cesárea, continuaram. Às pressas, do nada levaram ela para o centro cirúrgico”, disse.
Segundo Felipe, Manuele foi tirada da barriga e os médicos tentaram fazer a reanimação. “Minha esposa contou que escutou eles falando 1,2,3,1,2,3. E ela não teve acesso à nossa filha”, comentou.
A equipe do hospital informou para Felipe que teria havido uma fatalidade. Bruna não havia sido informada da morte pelos médicos. Ao chegar no quarto, gritou pela filha.
“É muito desespero. É uma cena que vai ficar para o resto da minha vida na minha mente. Eu tive que dar a notícia para ela. Minha esposa ficou em choque. Manu era um benção, um presente de Deus”, disse Felipe.
O motorista pegou a filha sem vida no colo. “Não veio nenhuma psicóloga para falar com minha esposa”, criticou.
Erro médico e negligência
Para Felipe, a filha morreu por erro médico e negligência. A cesárea deveria ter sido feita antes. A família recebeu informação de que haveria a falta do equipamento para monitorar o batimento cardíaco dos bebês nas barrigas das mães.
“Foi negligência. Os médicos não tratam as pessoas como seres humanos. Tratam como serviços. Não tem humanidade com as grávidas. Minha sofreu, chorou”, lamentou.
“A gente paga impostos. Precisamos de mais qualidade na Saúde. Não mais viadutos e pistas de concreto. Queremos serviço de qualidade para os hospitais”, arrematou.
O casal montou um quartinho especial para a menina. “A gente imaginava ela no berço, no carrinho. Imaginava brincando em casa. Falamos dela indo para a faculdade e a gente chorando na colação de grau dela. Infelizmente, eu perdi minha Manu por negligência médica”, chorou.
A família registrou boletim de ocorrência na Polícia Civil (PCDF).
Outro lado
O Metrópoles entrou em contato com a Secretaria de Saúde sobre o caso. Não houve resposta até a última atualização da reportagem. O espaço segue aberto.