Conforme a coluna Na Mira noticiou, a facção paulista Primeiro Comando da Capital (PCC) vive a pior crise dos últimos 30 anos. A cúpula da organização está rachada.
O líder máximo do PCC, Marco Willians Herbas Camacho, o Marcola, está jurado de morte pelo ex-dirigente Roberto Soriano, o Tiriça, expulso da facção ao acusar Marcola de delator. A reportagem teve acesso à mensagem, chamada de “salve”, que culminou no rompimento inédito.
O texto, assinado pela Sintonia Final, como é chamada a cúpula da facção, detalha os motivos da expulsão de Tiriça, de Abel Pacheco de Andrade, o Vida Loka, e de Wanderson Nilton de Paula Lima, o Andinho. O trio, assim como Marcola, cumpre pena na Penitenciária Federal de Brasília.
Confira a íntegra do texto enviado aos faccionados:
SALVE GERAL 15/02/2024.
Primeiramente nosso abraço leal e sincero com respeito e consideração.
A Sintonia Final deixa todos cientes que ao longo dos anos nossos inimigos (governos Estaduais e Federais) vem tentando plantar a discórdia dentro da nossa organização no intuito de nos autodestruirmos e, assim, nos enfraquecermos. Frisamos que a luta de todos dentro do Comando está acima de interesses pessoais e de poder de qualquer integrante, seja ele qual for.
Fazendo um breve resumo do problema, os nossos inimigos se articularam na intenção de criarem um racha dentro da nossa organização, fato esse que foi abraçado por alguns integrantes (Porém, não imaginavam que não iríamos segui-los, já que o direito de defesa é de todos).
Para que todos entendam, o Depen se articulou por meios de escutas em agentes penitenciários gravando o Marcola ilegalmente e usou isso contra o Tiriça em seu júr, já na intenção de jogar um contra o outro. Gravação esta que foi analisada pela sintonia e que fica claro que não existe nenhuma delação por parte do irmão (Marcola), e sim um papo reto de criminoso com a polícia .
A promotoria pegou esse áudio e criou um cenário falando o que bem entendiam. Todos sabemos que promotores vão sempre criar um cenário favorável a eles. Deixamos esta gravação disponível a todos. Ressaltamos que está tanto em redes sociais quanto em manuscrito para que todos possam ter acesso tirando suas próprias conclusões.
Devido ao exposto, na data de hoje, estamos excluindo e decretando o Tiriça , Abel e Andinho. Motivo da exclusão: calúnia e traição.
OBS: Todos aqueles que se levantarem no intuito de criar racha e discórdia dentro da nossa organização serão excluídos e decretados. A sintonia deixa claro a todos que estamos a disposição para esclarecer qualquer dúvida. Pedimos a todos que fiquem atentos, afinal, nossos inimigos continuaram se articulando e criando mecanismos para tentar enfraquecer o Comando. A união e a lealdade de todos ao Comando é um COMPROMISSO de cada um de nós.
Fica aqui nossos agradecimentos a todos pela atenção. Um grande e leal abraço.
Ass: S.F
Entenda
O principal motivo do rompimento é um diálogo gravado entre Marcola e policiais penais federais, na Penitenciária Federal de Porto Velho (RO). Na ocasião, o detento chegou a afirmar que Roberto Soriano, o Tiriça e número dois na hierarquia da facção, era um “psicopata”.
A declaração foi usada por promotores durante o julgamento de Roberto Soriano. O criminoso, que cumpre pena atualmente na Penitenciária Federal de Brasília, junto a Marcola e outros líderes do PCC, foi condenado a 31 anos e 6 meses de prisão, em 2023, por ser o mandante do assassinato da psicóloga Melissa de Almeida Araújo.
A servidora pública trabalhava na penitenciária federal de segurança máxima de Catanduvas (PR) e teria sido vista pelos criminosos como um “alvo fácil”.
O crime, cometido em 2017, seria uma ação do PCC contra o rigor do regime adotado no Sistema Penitenciário Federal (SPF). Segundo as investigações, a facção considera que os presos sofrem “opressão” do Estado, pelo fato de o esquema de segurança não prever visitas íntimas e de o contato com advogados e parentes ser estritamente por meio de parlatório, o que não favorece a entrada de drogas, celulares e, sobretudo, a entrega de bilhetes nas prisões.
Como divulgado com exclusividade pela coluna Na Mira, a primeira conversa ocorreu em junho de 2022. Na ocasião, Marcola falou sobre a “imagem” que as pessoas têm dele. Camacho chegou a dizer que não é um “cara bonzinho”, mas “perigoso de verdade”. Porém, destacou não ser a favor da “violência gratuita”.
Marcola continuou a fala afirmando não ser da “política” dele matar agentes penitenciários. Contudo, disse que alguns faccionados foram executados por determinação dele, “mas por outras circunstâncias”. O preso emendou alegando que “era espancado” na Penitenciária 2 de Presidente Venceslau (SP), a 600 km da capital paulista, onde cumpriu pena antes de dar entrada no sistema federal. Também reforçou que, no SPF, “sempre foi respeitado por todos os agentes”. O 01 do PCC desabafou, ainda, sobre a suspeita de mandar matar servidores e alegou que “poderia se tornar um psicopata desses igual ao Soriano” e que “não é isso”, pois “não é da natureza” dele.
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Marcola Pcc prisão Brasília
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Usada no tribunal, a declaração de Marcola teria sido interpretada por Soriano como uma espécie de delação. O então 02 teria se unido a Abel Pacheco de Andrade, o “Vida Loka”, e a Wanderson Nilton de Paula Lima, o “Andinho”, também presos em Brasília, para pedir, por meio do chamado “salve”, a morte e a expulsão de Marcola do PCC.
A justificativa de Soriano seria a “displicência” no comando da facção. Neste mês, a cúpula do PCC emitiu um comunicado que decretou a expulsão de Soriano, Abel Pacheco e Wanderson Nilton da organização criminosa, por “traição”.
“Ala Terrorista”
Roberto Soriano é visto como o cabeça da “Ala Terrorista do PCC” – grupo radical que coordena a morte de autoridades. A coluna Na Mira apurou que a facção oferece auxílio mensal aos assassinos de policiais e que o valor pode chegar a R$ 5 mil.
Há mais de 10 anos cumprindo pena no SPF, Tiriça foi transferido, em 2012, da Penitenciária Regional de Presidente Venceslau para a Penitenciária Federal de Porto Velho (RO).
As autoridades o consideram um criminoso de altíssima periculosidade, com grande poder financeiro e planos de fuga. Os investigadores chegaram a encontrar bilhetes escritos por Soriano, quando ele ainda estava preso em São Paulo, com determinações para o assassinato de policiais da Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar (Rota) da Polícia Militar do estado (PMSP).