O policial militar que denunciou ter sido vítima de tortura durante um curso de formação de Patrulhamento Tático Móvel da Polícia Militar do Distrito Federal (PMDF) diz que as acusações, que ganharam as páginas de notícia nessa segunda-feira (29/4), não são para ferir a corporação, mas para denunciar “criminosos de farda”. Danilo Martins, 34 anos, concedeu entrevista ao Metrópoles e detalhou as agressões que sofreu em 22 de abril.
Na entrevista, o soldado descreveu as oito horas de terror que sofreu, desde os dois primeiros minutos do curso. As agressões começaram após ele se recusar a desistir da formação. Danilo contou que, inicialmente, pensava que era uma estratégia, com o objetivo de já causar a desistência. “Quando eu desisti, lembro que o tenente comemorou”, disse. “Eles diziam que à noite seria pior”, relembra.
Danilo não soube dizer ao certo o que teria motivado a perseguição contra ele. “Eu já tinha um destaque, sou atleta, morei fora, escrevi livro”, comentou.
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O soldado é pastor há 13 anos e, apesar de não se identificar como homem gay, já foi líder religioso em igrejas LGBTs. Aos 15 anos começou a se dedicar a jogos de futebol. Já jogou no Palmeiras, no Cruzeiro e no Atlético Goianiense. Danilo morou na Austrália e nos Estados Unidos, como jogador de futebol.
O soldado disse que após a denúncia recebeu comentários e mensagens de outras pessoas que também foram brutalmente agredidas no curso. “Sei que não fui o único”, contou.
Assista à entrevista:
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Material cedido ao Metrópoles
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O Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios (TJDFT) determinou, nesta segunda-feira (29/4), a prisão temporária de 14 policiais militares. Os PMs são suspeitos de agredir e torturar o colega de farda durante o curso de formação do Batalhão de Choque (Patamo).
Pauladas e gás lacrimogênio
O Metrópoles teve acesso ao depoimento prestado pela vítima à Corregedoria da PMDF e à Promotoria de Justiça Militar do DF. Segundo odocumento, os soldados e o tenente responsável pelo curso teriam xingado e jogado gás lacrimogênio nos olhos de Danilo. “[…] ato contínuo o depoente foi molhado, enquanto segurava a tora de madeira sobre a cabeça com os braços esticados, sendo que o tenente disse que, quando o depoente secasse ele voltaria e queria as fichas assinadas”, conforme consta em depoimento prestado pela vítima à Corregedoria da PMDF e à Promotoria de Justiça Militar do DF.
Além disso, Danilo também afirmou às autoridades que recebia os chutes e era obrigado a ficar em posição de flexão. Enquanto isso, levava pauladas na cabeça.
Após as agressões e humilhações, Danilo optou por desistir do curso. Nesse momento, ele saiu do meio dos colegas e foi ao banheiro se trocar. “Após desistir, o tenente afirmou “Danilo, era minha missão te desligar do curso. Muita gente me pediu para te desligar. Volta ano que vem que você não vai receber essa carga’”, completa o documento.
Soldado foi para a UTI
De acordo com familiares do soldado, as agressões teriam durado cerca de oito horas. “Ele apanhou nos joelhos, nas costas, na cabeça, no estômago, no rosto, nos braços. Quando a gente chegou no hospital, ele estava com um quadro de rabdomiólise grave, que é quando a fibra muscular rompe e ela solta uma toxina que intoxica o rim. Por conta do quadro de rabdomiólise, ele estava com insuficiência renal e precisou ser internado imediatamente na UTI”, diz uma familiar de Danilo.
Os exames mostram que Danilo ficou com uma lesão cerebral que afeta visão e audição. “Ele não enxerga 100%. A imagem vai sumindo, ele está com fotofobia, está com lesão na medula da lombar e sente muita dor na lombar, fora todos os hematomas”, completa a parente.
O que diz a PMDF
Segundo o depoimento, Danilo identificou o tenente responsável pelo curso como Marco Teixeira. Procurada, a PMDF informou, por meio de nota, que durante as atividades do curso de Patrulhamento Tático Móvel, no dia 22 de abril, um aluno solicitou desligamento após passar pela etapa inicial do curso e exercícios físicos, previstos.
“Apesar de sair do batalhão alegando que estava bem, o referido aluno procurou atendimento hospitalar apresentando quadro compatível com rabdomiolise e alegando ter sido agredido”.
A Corregedoria da PMDF já instaurou Inquérito Policial Militar para apurar o caso, e que já está sendo acompanhado pelo Ministério Público. “O coordenador do curso solicitou o seu desligamento voluntário para que as apurações transcorram da forma mais transparente possível. Continuamos a disposição para esclarecimentos posteriores”, completa a nota.
Defesa dos PMs
Em nota, o advogado Marcelo Almeida, responsável pela defesa de 12 dos PMs, disse que “em nenhum momento os referidos policiais militares foram notificados para prestarem quaisquer tipos de esclarecimentos sobre os fatos objeto desta operação, seja pelo Departamento de Controle e Correição da PMDF ou mesmo pelo MPDFT”.
O advogado acrescenta que seus clientes foram “apenas surpreendidos nesta manhã com suas respectivas prisões, razão pela qual a defesa técnica buscará trazer aos autos suas versões, para que então o Poder Judiciário possa aplicar o direito da melhor forma”.