Enquanto policiais militares adoecem mentalmente, chegando ao extremo de sete suicídios somente em 2024, a Polícia Militar do Distrito Federal (PMDF) investiu somente R$ 10 milhões no serviço médico da própria corporação.
Apesar de ter um hospital próprio, a corporação investiu o grosso do orçamento com saúde, R$ 324 milhões, na rede conveniada privada, segundo consta no Plano Interno de Orçamento (PIO) da PMDF para o Serviço de Saúde 2024.
A crise da saúde mental na PM é crescente. No último fim de semana, dois policiais militares tiraram a própria vida. Com isso, segundo levantamento feito pelo Metrópoles, entre 1º de janeiro e 8 de abril de 2024, pelo menos sete PMs se mataram na capital do país.
O caso de maior repercussão foi o caso do sargento Paulo Pereira de Souza, em janeiro, que atirou e matou o soldado Yago Monteiro Fidelis, e depois cometeu suicídio.
Sem tratamento
Famílias de policiais não conseguem acesso a tratamentos de saúde pelo plano da PMDF. No caso da saúde mental, PMs esperam até 4 meses para conseguir consulta com psiquiatra no DF pela rede conveniada. Novas consultas estão previstas apenas para agosto de 2024.
Segundo a professora de Saúde Coletiva da Universidade de Brasília (UnB) Carla Pintas, o serviço de saúde da PMDF oferecido está muito aquém da necessidade da tropa. Além de não atender a crescente demanda dos policiais e suas famílias, o modelo não consegue acompanhar o avanço da medicina, como novos medicamentos e tratamentos.
“É para se pensar. Ter ou não ter esse serviço? Qual é o gasto que a instituição Polícia Militar está tendo? E quanto teria de benefício teria se fizesse, por exemplo, um plano de saúde corporativo ou escolhesse um operadora de plano de saúde para oferecer o serviço?”, argumentou.
A professora lembrou que o próprio Governo do DF (GDF) passou a oferecer um plano de saúde para os servidores, o GDF Saúde. E o produto tem apresentado resultados interessantes. “Porque manter essas clínicas especializadas não vai de encontro à necessidade. É preciso repensar essa estrutura de serviços”, ressaltou.
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Outro lado
O Metrópoles entrou em contato com a PMDF sobre a questão. O espaço segue aberto para eventuais manifestações.
Busque ajuda
O Metrópoles tem a política de publicar informações sobre casos ou tentativas de suicídio que ocorrem em locais públicos ou causam mobilização social, porque esse é um tema debatido com muito cuidado pelas pessoas em geral.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda que o assunto não venha a público com frequência, para o ato não ser estimulado. O silêncio, porém, camufla outro problema: a falta de conhecimento sobre o que, de fato, leva essas pessoas a se matarem.
Está passando por um período difícil? O Centro de Valorização da Vida (CVV) pode ajudar por meio do número 188. A organização atua no apoio emocional e na prevenção do suicídio, atendendo, voluntária e gratuitamente, todas as pessoas que querem e precisam conversar, sob total sigilo, por meio de telefone, e-mail, chat e Skype, 24 horas, todos os dias.
Samu
O Núcleo de Saúde Mental (Nusam) do Samu também é responsável por atender demandas relacionadas a transtornos psicológicos. E atua tanto de forma presencial, em ambulância, como a distância, por telefone, na Central de Regulação Médica 192.
Na rede pública da saúde, a assistência psicológica pode ser encontrada nos Centros de Atenção Psicossocial (CAPs), em hospitais e nas unidades básicas de Saúde.
O UniCeub também oferece atendimento. Pela taxa de R$ 40, crianças, a partir de 4 anos, adolescentes, adultos, casais e famílias podem ser atendidos. As consultas acontecem no Edifício União, localizado no Setor Comercial Sul. Após a avaliação psicológica do paciente, as consultas são agendadas uma vez por semana, com o apoio dos alunos do curso de psicologia. Os interessados podem agendar o atendimento por telefone (61) 3966-1626, ou presencialmente, no Edifício União.