A vida da maquiadora Jully da Gama Carvalho, de 30 anos, mudou completamente após ter sido alvejada por um tiro do segundo-sargento do Corpo de Bombeiros Militar do Distrito Federal (CBMDF) Andrey Suanno Butkewitsch, em 28 de janeiro.
Quase um mês após a violência sofrida, ela, que era uma mulher ativa e trabalhadora, passou por uma segunda cirurgia na segunda-feira (26/2) para remover um dreno do cérebro. “Os médicos cortaram a parte do crânio, tiraram os fragmentos, fizeram a limpeza, fecharam”, detalhou o marido, Jairo Soares.
“Esse o procedimento para salvar a vida dela, só que nisso ficaram alguns fragmentos alojados no cérebro. Tinha um grande até, do tamanho de uma moeda de um real”. Esse resquício do disparo deixou sequelas, e que antes era fácil, como segurar um pincel delineador, hoje, é um esforço enorme.
Em um vídeo gravado pela família, é possível ver a reabilitação da maquiadora. Assista:
“Ela teve perda de função motora do lado direito, perda de olfato, de paladar; a visão dela também ficou turva também e apresenta crises de esquecimento, especialmente da memória recente”, disse.
Maquiadora baleada na cabeça por bombeiro do DF: “choro toda noite”
O crime por si só já seria uma tragédia, mas dois dias após a violência sofrida, a família de Jully teve que lidar com outro baque. Jairo foi demitido do emprego de corretor de seguros. Ele era contratado como Microeemprendedor Individual (MEI) e, com a demissão, não teve direito a FGTS, férias nem mesmo o aviso prévio.
“É algo que não desejo nem mesmo para esse covarde que atirou nela: ver a pessoa que você ama todos os dias com dor e não saber o que colocar no prato dos seus filhos”, declarou Jairo. O casal tem três filhos pequenos, que também tiveram a vida abalada.
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andrey militar maquiadora
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A família saiu do apartamento em que moravam de aluguel para morar com parentes e tenta conseguir recursos para ajudar no tratamento da maquiadora e nos custos de vida. Até o momento, eles não receberam um centavo sequer do agressor, Andrey Suanno Butkewitsch. Ele está preso.
Jully está no Hospital de Base se recuperando da segunda cirurgia e deve ser encaminhada para o Hospital de Apoio, para receber o acompanhamento de fisioterapia.
Como ajudar
Para contribuir, a família montou uma vaquinha online para arrecadar os valores. A plataforma cobra uma taxa de 6,4% do total bruto arrecadado e R$ 0,50 por cada transação feita.
Desta forma, quem preferir ajudar diretamente para família pode fazer um Pix para o CPF de Jully, com a sequência 039.156.331-94.
Outro meio de ajudar é com apoio profissional de saúde, assim que Jully sair dos hospitais. “Sabemos que vai ser uma reabilitação longa”, destacou Jairo.
O marido ainda disse que quem não puder contribuir financeiramente pode ajudar Jully seguindo nas redes sociais. O perfil dela é jullycarvalh_ no Instagram.
“Isso vai ajudar o trabalho dela quando se recuperar e vai motivá-la a seguir com seu trabalho”, completou Jairo.
Diariamente, Jairo publica notícias sobre a saúde e a recuperação de Jully pela página nas redes sociais.
Bombeiro é indiciado pela PCGO
A Polícia Civil de Goiás (PCGO) indiciou Andrey Suanno Butkewitsch. Em um vídeo, é possível ver o momento em que as agressões começam, por volta de 0h47. Conforme as imagens, dois homens se estranham e trocam socos, e outras pessoas acabam se envolvendo na briga.
Veja o vídeo:
A situação fica fora de controle, e alguns dos envolvidos deixam o local, seguindo em direção a um carro. Nesse momento, conforme flagrou uma segunda câmera de segurança, o militar sacou uma arma e atirou contra o veículo. O projétil atingiu a cabeça da maquiadora.
De acordo com as gravações, após efetuar o disparo, o militar retorna com a arma para o bar. Um outro vídeo mostra o momento em que ele coloca a pistola em um balcão do comércio, mostra um documento a um funcionário do local e depois se retira.
GSI
Quando atirou na maquiadora, Andrey estava lotado na Presidência da República e também fazia parte do Gabinete de Segurança Institucional (GSI). Segundo consta no Portal da Transparência, o militar atuava desde 2019 no órgão do governo federal responsável pela segurança do presidente da República.
A Corregedoria do Corpo de Bombeiros Militar do Distrito Federal (CBMDF) informou, em nota, que apura o “suposto envolvimento de um militar da corporação”.
“Informamos que os fatos estão sendo apurados e, se confirmada autoria e materialidade, a Corregedoria irá adotar as providências internas que o caso requer. Reiteramos ainda que o CBMDF não compactua com condutas delituosas de qualquer natureza e primamos pela conduta ilibada e exemplar da tropa, que são pautadas pelos regulamentos e pilares que norteiam a Corporação”, disse o CBMDF.