A longa peregrinação de uma família por hospitais da rede pública de saúde do Distrito Federal teve um desfecho trágico. Por quatro dias, Gabriela Alves Martins de Oliveira buscou assistência para a filha, Helena, nas unidades de saúde, mas foi liberada do local. Em depoimento, a mãe contou que a criança de apenas 8 meses de vida morreu de dengue e Covid-19 na manhã de quarta-feira (28/2), nos seus braços, no Hospital de Planaltina
“Quando foi de manhã, tudo aconteceu. Ela já estava bem molinha. Fui dar um banho e as extremidades dela estavam frias, tentei dar leite e ela já não quis. Ela morreu nos meus braços, não teve jeito. Chegou no hospital já morta”, relatou.
“Colocaram oxímetro nela, mas já não estava respondendo. No Hospital de Planaltina tive todo amparo, ficaram uma hora tentando reanimar ela. Se houve erro, foi no Hospital de Sobradinho”, disse. Gabriela contou que, em nenhum momento foi informada sobre possibilidade de a menina ter sido infectada por Covid.
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Helena e a mãe, Gabriela
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Helena, bebê que morreu de covid e dengue no DF (8)
Helena Alves Martins Dourado tinha 8 meses
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A causa da morte da criança de 8 meses foi Covid e dengue, segundo certidão de óbito
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Helena morava em Planaltina (DF)
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A menina começou a passar mal no domingo e morreu na quarta-feira de manhã
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Helena Alves Martins Dourado
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Helena Alves Martins Dourado e a mãe, Gabriela
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Gabriela contou que a filha começou a passar mal no domingo (25/2). A família buscou atendimento na rede pública de saúde para a criança pelo menos quatro vezes antes do óbito, mas a menina não foi internada.
Segundo ela, a filha teve febre no domingo e foi levada ao Hospital de Planaltina, mas a bebê teria sido liberada. “Ela teve um episódio de vômito, mas como não tinha mais febre, [o hospital] me mandou embora para casa. Não me falou nada de Covid”, contou.
“Ninguém pediu exame de Covid. Só depois que ela foi a óbito. Por isso é que demorou 24 horas para liberar o corpo da minha filha, o que foi muito ruim”, relatou a mãe da criança.
No dia seguinte, segunda-feira (26/2), a criança foi levada à unidade básica de saúde (UBS). No local, segundo a mãe, Helena foi bem atendida e lá os profissionais de saúde fizeram o teste de dengue e a orientaram a fazer o exame de hemograma, para contar as plaquetas.
A mãe disse que ficou “desesperada” e decidiu procurar o Hospital Regional de Sobradinho, ainda na segunda-feira, onde esperou por sete horas e foi atendida depois de procurar a direção da unidade de saúde.
“No Hospital de Sobradinho, colocaram pulseira laranja nela e fiquei sete horas esperando por atendimento. A médica falou que não era nada, fez hemograma, colocou um acesso nela, deu soro. Aí a doutora falou: ‘Não vou manter ela aqui porque está sem febre, está urinando, então a gente entende que não tem nada’”, relatou Gabriela.
Na terça-feira (27/2), Gabriela disse que levou a filha à UBS durante o dia. A mãe comprou dipirona, paracetamol e soro para dar em casa. À noite, a menina piorou e vomitou seis vezes. Segundo a mãe, a criança, apesar dos vômitos, sentia “uma sede louca”. “Ela vomitou seis vezes à noite, porém, tomava leite e água. Ela sentiu uma sede louca, muita sede. Ela vomitava e mamava. Mas não deu febre”, disse.
Veja a certidão de óbito:
Certidão de óbito da criança que morreu de dengue e Covid no DF
O corpo da criança foi sepultado no Cemitério de Planaltina sob forte comoção. Os familiares e amigos soltaram balões brancos e rosas em homenagem à Helena. Veja:
Após a morte da filha, Gabriela quer fazer um alerta para todas as mães. “Venho fazer esse relato e essa denúncia, pois minha filha faleceu por não ter tido o atendimento adequado em Sobradinho. Ela deveria ter sido internada e foi mandada para casa”, lamentou.
Dengue: o que você precisa saber sobre a doença
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A dengue é uma doença infecciosa transmitida pela picada do mosquito Aedes aegypti. Com maior incidência no verão, tem como principais sintomas: dores no corpo e febre alta. Considerada um grave problema de saúde pública no Brasil, a doença pode levar o paciente a morte
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O Aedes aegypti apresenta hábitos diurnos, pode ser encontrado em áreas urbanas e necessita de água parada para permitir que as larvas se desenvolvam e se tornem adultas, após a eclosão dos ovos, dentro de 10 dias
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A infecção dos humanos acontece apenas com a picada do mosquito fêmea. O Aedes aegypti transmite o vírus pela saliva ao se alimentar do sangue, necessário para que os ovos sejam produzidos
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No geral, a dengue apresenta quatro sorotipos. Isso significa que uma única pessoa pode ser infectada por cada um desses
micro-organismos e gerar imunidade permanente para cada um deles. Ou seja, é possível ser infectado até quatro vezes
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Os primeiros sinais, geralmente, não são específicos. Eles surgem cerca de três dias após a picada do mosquito e podem incluir: febre alta, que geralmente dura de 2 a 7 dias, dor de cabeça, dores no corpo e nas articulações, fraqueza, dor atrás dos olhos, erupções cutâneas, náuseas e vômitos
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No período de diminuição ou desaparecimento da febre, a maioria dos casos evolui para a recuperação e cura da doença. No entanto, alguns pacientes podem apresentar sintomas mais graves, que incluem hemorragia e podem levar à morte
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Nos quadros graves, os sintomas são: vômitos persistentes, dor abdominal intensa e contínua, ou dor quando o abdômen é tocado, perda de sensibilidade e movimentos, urina com sangue, sangramento de mucosas, tontura e queda de pressão, aumento do fígado e dos glóbulos vermelhos ou hemácias no sangue
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Nestes casos, os sintomas resultam em choque, que acontece quando um volume crítico de plasma sanguíneo é perdido. Os sinais desse estado são pele pegajosa, pulso rápido e fraco, agitação e diminuição da pressão
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Alguns pacientes podem ainda apresentar manifestações neurológicas, como convulsões e irritabilidade. O choque tem duração curta, e pode levar ao óbito entre 12 e 24 horas, ou à recuperação rápida, após terapia antichoque apropriada
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Apesar da gravidade, a dengue pode ser tratada com analgésicos e antitérmicos, sob orientação médica, tais como paracetamol ou dipirona para aliviar os sintomas
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Para completar o tratamento, é recomendado repouso e ingestão de líquidos. Já no caso de dengue hemorrágica, a terapia deve ser feita no hospital, com o uso de medicamentos e, se necessário, transfusão de plaquetas
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O que diz a SES-DF
A Secretaria de Saúde do Distrito Federal (SES-DF) disse, em nota enviada à coluna, que a paciente em questão passou pela triagem do Hospital Regional de Planaltina, onde recebeu classificação verde, de acordo com o protocolo de classificação de risco. “O hospital, no momento do atendimento, estava em bandeira vermelha, ou seja, priorizando os casos mais graves, com risco de morte”, pontuou.
“Ao procurar o Hospital Regional Sobradinho, a paciente passou pela triagem, foi acolhida e avaliada, recebendo hidratação. Recebeu alta hospitalar, já que não havia alterações clínicas ou ambulatoriais, naquele momento, que indicassem a internação. A família foi orientada a manter hidratação oral e a retornar à uma unidade de saúde, caso houvesse alguma alteração no estado clínico”, disse.
“Com a evolução do quadro, a família retornou ao HRP, onde a criança já deu entrada com quadro de parada cardíaca. Foram iniciadas as manobras de reanimação mas, infelizmente, ela não respondeu aos procedimentos. A pasta esclarece que o óbito está sendo avaliado pela comissão de investigação de óbitos da região de Saúde Norte”, concluiu a SES-DF.
Dengue
O Distrito Federal está em estado de emergência desde janeiro em razão da epidemia de dengue.
A capital do país registrou, até esta sexta-feira (1°/3), 77 mortes por dengue em 2024, segundo o Ministério da Saúde. Outros 60 óbitos estão sob investigação.
Ainda de acordo com o painel do Ministério da Saúde, o DF teve 102,7 mil casos de dengue no ano, até o momento.