A Justiça de Goiás condenou seis criminosos acusados de iludir vítimas com a promessa de “fabricar” dinheiro. O grupo havia sido alvo da Operação Houdini, nomeada em referência ao famoso ilusionista Harry Houdini. Com falso laboratório, o golpista se passava por químico e fazia “truque” com caixas térmicas. Dessa forma, o bando lucrou de R$ 260 mil a R$ 1,4 milhão por vítima, lesando pessoas no Distrito Federal, em Goiás e outros seis estados.
A operação foi deflagrada ainda junho de 2022, pelos Ministérios Públicos do DF (MPDFT) e de Goiás (MPGO). Na mais recente decisão, a 2ª Vara Estadual de Repressão ao Crime Organizado e a Lavagem de Capitais de GO aplicou penas que chegam a 17 anos e 3 meses de prisão, além da condenação por danos materiais causados às vítimas, de mais de R$ 3,3 milhões.
O esquema do grupo era complexo. Se passando por investidores, com supostas ligações com servidores da Casa da Moeda, deputados e até “russos”, eles diziam às vítimas que buscavam “parceiros de negócios”. A pessoa lesada era escolhida a dedo. Na abordagem, os criminosos a convenciam de que conseguiam “fabricar dinheiro”, mas precisavam de notas verdadeiras para servir de molde.
A promessa era conseguir fabricar 10 vezes a quantidade de cédulas que a vítima entregasse. Para convencer as vítimas da história mágica, o grupo tinha duas estratégias principais. A primeira era dizer que o dinheiro ficaria a todo tempo em posse delas e tudo aconteceria na presença delas. A segunda era o generoso prazo que pediam para que a pessoa pagasse pelo serviço. O grupo pedia 60% do valor recebido, em até três anos.
Por fim, havia um encontro prévio, em um local luxuoso, com um falso laboratório improvisado, quando os membros da organização criminosa fingiam produzir o dinheiro falso e chegavam a entregar notas verdadeiras, dizendo que eram produtos da fabricação caseira.
Laboratório e química
Antes do dia marcado para o milagre da multiplicação do dinheiro, os bandidos ligavam para a vítima e perguntavam a quantidade de notas de R$ 50 e de R$ 100 que ela iria levar para as cópias, usando a desculpa de que precisavam calcular e providenciar com antecedência a quantidade exata de papel moeda usada no crime.
Sabendo exatamente quantas notas a pessoa lesada levaria, eles preparavam uma caixa térmica, cheia de papel branco. Por cima, colocavam uma fina camada de dinheiro verdadeiro, escondendo o que estava por baixo e quantidade semelhante àquela informada. No dia combinado, em um local escolhido pela própria vítima, os criminosos iam em bando.
Um deles se passava por químico. Era ele que, rapidamente, montava um mini falso laboratório para a suposta fabricação do dinheiro. Com a desculpa de que o dinheiro precisava ser deixado de molho, para amaciar e, no dia seguinte, ser copiado, o grupo montava uma caixa térmica idêntica àquela que haviam preparado antes, mas com o dinheiro da vítima.
Um dos atos do truque era pedir que a pessoa fosse até o banheiro, para ajudar a produzir uma mistura química que seria utilizada na falsa multiplicação do dinheiro. Enquanto o ato totalmente teatral acontecia ali, um dos bandidos trocava as caixas, pegando para si aquela com todas as notas levadas pela vítima e deixando no mesmo local aquela preparada dias antes, recheada de papel.
Os membros da organização criminosa diziam que o dinheiro precisava ficar de molho, na posse das vítimas, até o dia seguinte, mas que elas não poderiam de jeito nenhum abrir a caixa, já que isso “estragaria o processo”. Prometendo voltar dias depois, eles sumiam com o dinheiro dos lesados, que só depois percebiam o golpe e ainda ficavam com medo de denunciar, já que também estavam se envolvendo com algo ilícito.
Condenações
Seis membros do grupo, todos denunciados pelo Ministério Público de Goiás dentro da Operação Houdini, foram condenados pela Justiça em segunda sentença proferida no caso. Quatro tiveram prisão preventiva mantida e dois vão recorrer em liberdade. Eles foram condenados pela prática de furtos qualificados contra cinco vítimas diferentes. Dois ainda receberam condenação por integrarem organização criminosa.