A quilombola Elmina Faria da Silva, 71 anos, morreu na madrugada do domingo de Dia das Mães (12/5). A morte da Kalunga ocorreu 15 dias após ter feito cirurgia para remover duas hérnias “estouradas”.
Em 10 de abril, o Metrópoles contou a saga da família de Elmina para conseguir uma cirurgia. Ela se queixava de dores, cansaço, fadiga e fraqueza. A quilombola também reclamava de sangramentos vaginais diários.
De acordo com os familiares, o fígado da mulher inchou. Eles não veem relação da cirurgia com a morte da moradora do quilombo Vão do Moleque, em Cavalcante, na região da Chapada dos Veadeiros.
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Segundo os parentes, Elmina teria evitado contar sobre a barriga deformada e das dores que sentia, o que dificultou a busca por tratamento médico.
Na última semana de abril, a família conseguiu providenciar uma cirurgia em Goiânia com a parceria de um político local do município de Cavalcante, no Entorno do Distrito Federal. Elmina não voltou para casa após o procedimento médico.
Na época, a reportagem teve acesso ao encaminhamento médico que indicou que ela tinha hiperplasia endometrial, quando a camada interna do útero (endométrio) resulta em hemorragia. A doença é um fator de risco para desenvolver câncer uterino.
De acordo com especialistas, as hérnias não são as causadoras de sangramentos uterinos, nem mesmo do cansaço, mas demonstram que a saúde da mulher foi negligenciada.
“Uma hérnia para chegar assim acontece há anos, talvez até décadas. Claramente indica que não teve acesso a um serviço de saúde”, destacou o médico Rafael Ruano, cirurgião de urgência e emergência do Grupo Surgical.
Hérnia “estourada”
“Hérnia estourada” é uma expressão popular utilizada para descrever uma complicação grave em uma hérnia, como o estrangulamento ou a ruptura do saco herniário. No entanto, o termo não é correto dentro da medicina, conforme explicou o cirurgião geral Vinicius de Borba Marthental, do Hospital Edmundo Vasconcelos, de São Paulo.
Segundo o especialista, se a hérnia não for tratada adequadamente, pode haver complicações sérias, como estrangulamento ou obstrução intestinal, que podem levar à morte. Portanto, a cirurgia pode ser essencial para evitar complicações potencialmente fatais.
Quando a matéria denunciando o calvário de Elmina foi publicada, a Prefeitura de Cavalcante se manifestou informando de que estão em busca de tratamento para a quilombola em clínicas da rede particular, que o recurso para custear esse tratamento será da Associação de Quilombolas Calungas (AQC). Segundo a prefeitura, passaria por exames preparatórios para cirurgia na semana seguinte.
Após o triste desfecho, a reportagem entrou em contato novamente com a prefeitura, que ainda não respondeu. O espaço segue aberto para possíveis manifestações.