Os alunos da Universidade de Brasília (UnB) se surpreenderam com um questionário de 30 perguntas exigido pela instituição para que pudessem ter acesso a uma vaga da Casa do Estudante Universitário.
No formulário, é necessário responder “quão satisfeita/o você está com sua vida sexual”. O estudante deveria preencher um dos campos sinalizando se está muito insatisfeito; insatisfeito; nem satisfeito nem insatisfeito; satisfeito ou muito satisfeito.
O Metrópoles teve acesso ao formulário na íntegra e confirmou a oficialidade do documento. Por medo de represálias, os estudantes preferiram manter a identidade sob sigilo. O formulário foi exigido para quem desejasse renovar a moradia estudantil e teve de ser respondido até 22 de dezembro de 2023. O resultado foi divulgado em janeiro de 2024.
Além de perguntar sobre a satisfação sexual dos estudantes, o formulário de 10 páginas indaga se o estudante tem capacidade para desempenhar as atividades diárias e de trabalho. Também é questionado como o aluno avalia a relação com o pai e com a mãe. Veja algumas das questões:
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“Além da pergunta por si só ser absurda e de outras que exigem a completa exposição da vida pessoal do morador, não se sabe das intenções reais da Diretoria de Desenvolvimento Social para colher informações tão íntimas dos moradores”, destacou um dos alunos.
“Afinal, tal instrumento servirá para a elaboração de algum tipo de programa ou trata-se apenas de controle moral sobre os estudantes? Como a identificação dos moradores e as respostas ao formulário são obrigatórias, há um temor de que as informações possam ser vazadas”, completou. O estudante relatou que não há confiança com a direção.
“Esse questionamento invade muito a vida privada, a intimidade dos moradores”, disse outro estudante. Ele também reclama que alunos têm sofrido despejo do centro estudantil em caso de reprovação em uma única disciplina.
Despejo
“Imagine que você tem seis matérias da sua grade, de 60 horas cada”, exemplificou. “Se você tiver o baixo desempenho em uma delas, por qualquer razão que seja, já é expulso da assistência, da casa do estudante, sem ter onde ficar em Brasília. Isso significa que a pessoa não poderá refazer as matérias que reprovou nem continuar no curso”, indignou-se.
A política que envolve a Casa do Estudante Universitário faz parte do Programa Nacional de Assistência Estudantil, que tem como finalidade ampliar as condições de permanência dos jovens na educação superior pública federal. O programa foi criado em 2010 pelo Decreto Federal nº 7.234.
O direito à assistência estudantil é oferecido a quem tem renda familiar, per capita, de 1,5 salário mínimo. Para o aluno, o desligamento imediato vai contra o objetivo de evitar a evasão escolar do ensino superior.
O Metrópoles questionou a Universidade de Brasília sobre as perguntas do formulário e também sobre a política de despejo dos estudantes, que não respondeu até a última atualização deste texto. O espaço segue aberto para possíveis manifestação.