As fortes chuvas no Rio Grande do Sul concretizaram a ameaça dos impactos das mudanças climáticas no Brasil. O Distrito Federal, ainda que em grau muito inferior ao estado gaúcho, também experimentou alterações nas últimas seis décadas. Segundo pesquisa do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), o DF sofre elevação das temperaturas, redução das chuvas, queda da umidade relativa do ar e risco de eventos extremos.
A partir dos dados da estação meteorológica de Brasília, o Inmet analisou o comportamento da chuva e da temperatura desde 1961. A temperatura média anual do DF aumentou 1,6ºC. No mesmo período, houve queda de 144 milímetros de chuva. Ou seja, a cada ano, são 2,3 mm a menos.
Segundo a meteorologista do Inmet Danielle Ferreira, essas alterações no DF são consequência das mudanças climáticas e do reflexo do crescimento urbano, como ampliação da área asfaltada, perda da vegetação e aumento da frota de veículos.
“No geral, as mudanças climáticas vêm provocando alterações no padrão das variáveis meteorológicas em diversas regiões do planeta. Eventos cada vez mais extremos irão ocorrer por conta do aquecimento global, que é causado pelo aumento das emissões dos gases do efeito estufa na atmosfera e provocado pelas atividades humanas”, pontuou.
Aquecimento
A temperatura média do DF é de 21,4ºC. O aumento começou na década de 1990. Os maiores valores anuais observados foram em 2016 (22,4ºC), 2015 (22,2ºC) e 2023 (22,2ºC). Houve elevação em praticamente todos os meses, principalmente em outubro, com alta de 1,5°C, chegando a 23,1°C.
No caso da umidade relativa do ar, há tendência de redução abaixo da média anual histórica, que é de 64%. Os anos com menores registros foram 2007 (59%), 1963 (61%) e 2002 (61%).
Secas
O Inmet identificou redução das precipitações na primavera, entre 17 e 25 mm, nos meses de setembro e outubro, justamente o início do período chuvoso local. O atraso afeta diretamente o abastecimento dos reservatórios de água. Ou seja, pode levar a novas secas e novos racionamentos, prejudicando a população e a produção rural.
As maiores reduções foram observadas entre os meses de janeiro e fevereiro, com valores entre 30 mm e 40 mm. Vale ressaltar que esses meses são considerados os mais chuvosos da região.
Há tendência de redução no total anual de chuva. Os anos mais secos desde 1961 foram: 1986, 2023 e 1984, com volumes variando de 350 a 470 mm abaixo da média anual do DF, que é de 1.478 mm.
Extremos
Além da seca, o DF ficará mais vulnerável a chuvas mais intensas, com chances de alagamentos. “Quanto maior elevação de temperatura, maior é chance para chuvas fortes pontuais. Você tem maior evaporação, maior desenvolvimento de nuvem e chuvas”, explicou Ferreira. O aumento da evaporação dos oceanos também favorece tempestades.
Massas de ar seco formadas no Brasil Central tendem a dificultar a formação de nuvens de chuva. Isso pode ocasionar período de secas prolongadas, além de aumento no número de ondas de calor. Vale lembrar que o DF detém ilhas de calor por causa da falta de vegetação e do excesso de construções, como em Águas Claras.
Ações
O Ministério Público do DF e dos Territórios (MPDFT) promoveu o seminário Extremos climáticos e desastres no Distrito Federal, entre 6 e 9 de maio. O evento engatilhou a criação de uma sala de situação e de um fórum permanente para questões ambientais no DF, bem como de uma cooperação contra grilagem de terras.
De acordo com o promotor Dênio Augusto de Oliveira Moura, da Promotoria de Justiça de Defesa da Ordem Urbanística (Prourb), o Poder Público e a sociedade civil precisam unir esforços para evitar e minorar os estragos antes das possíveis catástrofes ambientais.
Leis ignoradas
O promotor Roberto Carlos, da Promotoria de Justiça de Defesa do Meio Ambiente (Prodema), conduz inquérito civil público para apurar por que o DF não cumpre legislação ambiental no sentido de evitar a ocupação desordenada do solo, a redução de emissão de gases e a proteção das águas.
Segundo o promotor, o primeiro foco de ação do DF deveria ser a redução da emissão de gases com o incentivo ao transporte público. O ideal seria fazer com que a frota de ônibus passe a funcionar com outra fonte de energia, em vez do derivado de petróleo.
Na sequência, o escoamento do tráfego deve buscar opções mais limpas, como Veículo Leve sobre Trilhos (VLT) e trens metropolitanos. O BRT não deveria ser fomentado, justamente porque emite gases. “Como a parte Norte, ligando o Plano Piloto a Planaltina, ainda não foi implementado um veículo para o escoamento, é uma boa oportunidade para o Estado implementar o VLT e não insistir no BRT”, comentou.
Outro lado
O Metrópoles entrou em contato com o GDF para falar sobre a questão, que detalhou todas as medidas em curso para reduzir os risco de que uma catástrofe climática ocorra na capital do país. Leia abaixo, na íntegra:
“Desenvolvendo infraestrutura viária da área rural visando a melhoria da pavimentação de estradas rurais a fim de deixar mais segura a mobilidade e tornando o deslocamento em caso de chuvas excessivas mais fácil e seguro. Além disso, estamos confeccionando, em parceria com a Emater, Ceasa e UnB, uma plataforma de gestão das informações agroambientais para dar uma segurança maior ao produtor rural.
Desde a crise hídrica que atingiu o Distrito Federal em 2017, vêm sendo realizadas ações e entre estas se destacam as visitas contínuas dos extensionistas da Emater-DF às propriedades rurais para sensibilizar e orientar os produtores sobre a necessidade de aperfeiçoar os sistemas e manejo da irrigação; plantio de mudas em áreas de preservação ambiental, especialmente nascentes e cursos d’água; e revitalização de canais de irrigação que garantem a produção rural praticamente o ano todo, aumentando a renda e gerando emprego no campo. Muitas destas ações em parceria com outros órgãos como Seagri, Novacap e diversos outros órgãos.
Considerando os aprendizados adquiridos em razão da crise hídrica de 2017, o produtor rural passou a ter maior clareza sobre as intervenções que devem ser feitas em sua propriedade para adequação ambiental conforme a legislação em vigor, bem como ampliou o conhecimento sobre a bacia hidrográfica onde está inserido.
Atualmente, a Emater-DF incentiva as seguintes práticas conservacionistas que refletem diretamente na redução da emissão de gás carbônico:
* Reflorestamento das áreas de preservação permanente e reserva legal;
* Recuperação e proteção de nascentes;
* Recuperação de pastagens degradas;
* Agricultura sustentável (plantio direto, rotação de culturas e sistemas agroflorestais).
* Compõe o Grupo Gestor do Distrito Federal (GGDF) do Plano Distrital de Agricultura de Baixo Carbono;
* Parceira nos Projetos Produtores de Água (Pipiripau e Descoberto);
* Parceira no Programa REFLORESTAR;
* Incentivo à implantação de energia fotovoltaica na área rural.
Atualmente, iniciativas como os Projetos Produtor de Água no Pipiripau e no Descoberto, que envolvem órgãos públicos distrital, federal e também organizações sociais, são ações que contribuem para a preservação das bacias hidrográficas e incentivam práticas conservacionista entre os produtores. O fortalecimento desses projetos é uma das medidas que reduz a ameaça ao futuro da produção agrícola“.