Um vídeo obtido pelo Metrópoles mostra o momento em que policiais militares do Distrito Federal arrastam o bombeiro Walter Leite da Cruz (foto em destaque). A vítima foi atingida por disparo de arma de fogo na região do pescoço, após ser confundida com um suspeito que era perseguido por PMs.
As cenas foram registradas em 10 de novembro de 2022, horas antes de o homem morrer no hospital. Agora, o Tribunal do Júri de Ceilândia deve julgar o soldado Ismael Coutinho pelo crime de homicídio qualificado.
As imagens também exibem que, após o homicídio, outras pessoas fardadas com o uniforme da PMDF entraram na cena do crime antes da chegada da perícia, o que poderia prejudicar a análise do local.
Veja as imagens:
O crime ocorreu na região do Setor O, Ceilândia. Apesar das diferenças de altura e idade, a alegação seria que a vítima foi confundida com o outro homem, que responde por violência doméstica.
Walter Leite foi socorrido em estado grave e levado, pelos próprios PMs, para o Hospital Regional de Ceilândia (HRC). Após dar entrada na unidade de saúde, o militar não resistiu aos ferimentos e morreu. O verdadeiro suspeito de violência doméstica foi preso e encaminhado à Delegacia Especial de Atendimento à Mulher (Deam II).
Perseguição e tiros
No dia da morte de Walter, Coutinho e outros três PMs estavam perseguindo um suspeito de agredir a companheira no Setor O, em Ceilândia.
Segundo os autos do processo, enquanto fugia dos policiais, o agressor pulou um muro e fugiu pelos telhados das casas do Conjunto G, da QNO 6. Após alguns minutos, entrou na casa do bombeiro.
Quando a polícia chegou ao endereço da vítima, um dos militares atirou contra Walter. Mais tarde, Coutinho assumiu ser o autor do disparo, mas alegou ter confundido a vítima com o agressor que estava fugindo — já que os dois estariam sem camisa.
Os outros três policiais que estavam com Coutinho na ação não foram pronunciados pela Justiça, ou seja, não respondem pelo homicídio.
Procurada pelo Metrópoles, a defesa de Coutinho indicou que vai se manifestar nos autos do processo. No recebimento da denúncia apresentada pelo Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT), os advogados apontaram que o militar agiu em legítima defesa após, segundo o soldado, ver a vítima andar em sua direção e não obedecer à ordem de parada
“Pessoa excelente”
Segundo o relato de vizinhos, divulgado anteriormente pelo Metrópoles, o militar era uma pessoa muito querida pelos amigos. Morador da casa em frente à de Walter, o aposentado Sebastião de Paula contou que o bombeiro já teria trabalhado como professor no Centro de Educação Fundamental (CEF) 26. “Ele era uma pessoa excelente. Minha esposa é professora aposentada e já trabalhou com ele na escola”, diz.
Os amigos se conheciam havia cerca de cinco anos. Para Sebastião, ainda é difícil acreditar na tragédia que abateu a família do bombeiro. “Quando eu cheguei em casa e vi o movimento aqui na frente, liguei para ele para saber o que tinha acontecido. Só depois soube que ele era a vítima”, lamentou o vizinho.
Também moradora do conjunto G da QNO 06, Tereza de Souza disse que o portão da casa da vítima estava entreaberto no momento em que o suspeito entrou. “Escutei o tiro e entrei correndo na hora. Depois, já chegou a polícia e levou o cara”, narrou.