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Aluno com baixa visão inspira colegas ao lançar livro em escola do DF

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O Dia Internacional do Livro Infantil, celebrado nesta terça-feira (2/4), faz valer o reconhecimento à maior porcentagem de leitores do Brasil: as crianças. Na contramão do senso de que dispositivos eletrônicos são capazes apenas de atrapalhar o interesse das novas gerações pela leitura, a última edição da pesquisa Retratos da Leitura no Brasil, divulgada pelo Instituto Pró-Livro em 2019, revela que quatro em cada cinco crianças do país mantêm esse hábito.

E um dos espaços cruciais para promover o primeiro contato das crianças com o mundo literário são as bibliotecas escolares. No caso de uma em especial, na Escola Classe (EC) do Setor Militar Urbano (SMU), referência na educação inclusiva pública no Distrito Federal, uma obra se destaca entre as demais das prateleiras.

Com título As Aventuras de Leonardo e Daniel na Escola do SMU, o livro foi escrito por Lorenzo Moraes, 9 anos, estudante do mesmo colégio onde se passa a história. Contudo, a produção envolveu uma longa jornada. O autor é uma criança com necessidades múltiplas e dificuldades de locomoção, como falta de movimentos das mãos e perda gradual da visão.


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A atenção a essas demandas do estudante pela comunidade escolar permitiram a ele descobrir o talento para a escrita, graças ao reaproveitamento de um dos computadores do colégio dentro da sala de aula, para que Lorenzo conseguisse acompanhar as atividades.

O equipamento, que conta com um teclado adaptado para pessoas com baixa visão, com botões maiores e coloridos, permitiu aos educadores descobrirem a aptidão do estudante em matérias como língua portuguesa. O computador também ajudou Lorenzo com as contas de matemática e os exercícios de gramática.

“Tudo o que ele fazia era muito cenestésico. Ele memorizava tudo, mas não conseguia demonstrar, registrar aquilo que ele aprendia”, contou a diretora da escola, Heloísa Almeida. “Quando ele passou a usar o computador, percebemos que ele é um dos mais avançados da turma na disciplina de português.”

Além das notas, o desempenho de Lorenzo em sala melhorou, segundo a vice-diretora do colégio, Virgínia Fernandes. “Antes ele andava cabisbaixo, com medo de tudo. Hoje, não. Brinca no recreio, fala com todo mundo e escreve os textos dele. Se deixarem, passa o dia todo escrevendo”, contou a educadora.


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Processo criativo

Em 2023, quando começou a dar aula para a turma de Lorenzo, a professora Vanessa Santana, 39 anos, percebeu o potencial criativo do aluno e decidiu trabalhar com a escrita para incentivar o processo de aprendizado dele.

“Ele usava o computador para escrever sobre os personagens dos livros que lia na biblioteca, dos repórteres que assistia na tevê e das pessoas da escola. O Lorenzo misturava todos eles em ‘historinhas’ que ele criava a partir da imaginação dele. Assim, pensei: ‘Por que não usar esse interesse dele para incentivá-lo?’”, disse Vanessa.

A professora, então, fez uma sugestão ao estudante: escrever um livro sobre a escola. Empolgado, Lorenzo aceitou a ideia e criou As Aventuras de Leonardo e Daniel na Biblioteca do SMU, sob supervisão do monitor Diego Ximenes, que acompanha o estudante no dia a dia.

“O livro veio todo da imaginação dele. Eu só ajudava ele a guiar a história e perguntava ‘Quem são os personagens?’, ‘Onde o livro vai se passar?’. E ele respondia e escrevia”, recordou o monitor.

Autógrafos e fotos

Quando o livro ficou pronto, os educadores do colégio marcaram um evento de lançamento, com direito a sessão de fotos e autógrafos do autor.

Recebido com sorrisos e abraços pela comunidade escolar, a atividade marcou um momento de integração, segundo a professora Vanessa. “Os alunos ficaram encantados. Eles viam o Lorenzo com o computador em sala e achavam que ele ficava jogando. Então, descobrir o que ele fazia de verdade deixou os colegas muito orgulhosos”, comemorou a educadora.

Para a vice-diretora Virgínia, o dia representou uma vitória não só para Lorenzo, mas para toda a escola classe. “Há seis alunos com diagnóstico de TDAH [Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade] ou autismo só na turma dele. A ação serviu de incentivo para todos e criou um espaço favorável, onde eles possam se sentir entendidos e acolhidos”, destacou a gestora.


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De todas as pessoas tocadas pela conquista do jovem escritor, nenhuma ficou mais orgulhosa que Michelli Moraes, 43 , mãe de Lorenzo. O desenvolvimento do filho, que aprendeu a ler pelas legendas do telejornal e ao brincar com letras em material EVA, surpreendeu positivamente a servidora pública.

“Ele gostava de ler e inventar, mas, depois do computador, só quis saber de criar ‘historinhas’. Agora, eu estou entusiasmadíssima para que ele escreva mais e que possamos publicá-las um dia. O fato de ele escrever esse livro é muito importante não só para mim como para outras famílias de crianças com laudos [de distúrbios do desenvolvimento]”, completou Michelli, emocionada.

Literatura infantil

Especialista em educação inclusiva, a professora Mônica Pereira lembra que os livros podem ser uma importante ferramenta para o desenvolvimento socioemocional das crianças, em especial aquelas com necessidades específicas.

“Ao ler boas histórias, as crianças se identificam, descobrem novos mundos, emocionam-se, riem, choram, deparam-se com medos. Tudo isso em um ambiente seguro e de confiança. Ao usar a leitura como meio de se conectar com elas, você estabelece uma relação de confiança”, enfatizou a educadora.

Comemorado internacionalmente desde 1967, o Dia Internacional do Livro Infantil surgiu em homenagem ao escritor dinamarquês Hans Christian Andersen, autor de clássicos como A Pequena Sereia, O Patinho Feio e O Soldadinho de Chumbo. A data enaltece tudo o que envolve esse universo, desde autores, a leitores e obras. 

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