Pesquisas recentes ajudam a explicar o que pode ocorrer na disputa pelo Planalto nas próximas semanas; ex-juiz trocou o Podemos pelo União Brasil e deve ser candidato a deputado federal.
A saída de Sergio Moro (União Brasil) da lista de pré-candidatos à Presidência da República não foi a primeira baixa da chamada terceira via, que busca se contrapor ao ex-presidente Lula (PT) e ao presidente Jair Bolsonaro (PL), mas deve mudar o jogo de forças entre os nomes que buscam vencer a eleição para o cargo mais importante do país. O ex-juiz da Lava Jato deixa a disputa no momento em que enfrentava dificuldades para montar palanques estaduais – como ocorreu em São Paulo, onde o deputado estadual Arthur do Val retirou sua pré-candidatura ao governo do Estado após o vazamento do áudio no qual afirmava que as refugiadas ucranianas “são fáceis porque são pobres” – e oscilava entre 6% e 9% nas pesquisas de intenção de voto. Com a desistência de Moro, quem herda os seus votos? Levantamentos divulgados recentemente ajudam a explicar o que pode ocorrer nas próximas semanas.
Pesquisa da Confederação Nacional do Transporte (CNT) divulgada em fevereiro mostra que, sem Moro, 25,8% dos eleitores que tinham o ex-juiz como primeira opção votaria em branco ou anularia seu voto. Entre os pré-candidatos, o ex-ministro Ciro Gomes (PDT) é quem mais se beneficiaria, absorvendo 16,4% dos votos. Desafeto político do agora filiado ao União Brasil, o presidente Jair Bolsonaro receberia 15,6%; Lula, por sua vez, ficaria com 10,2%. Pré-candidato do PSDB ao Planalto, João Doria herda 8,6% dos votos.
O levantamento da Genial/Quaest do mês de março traz outros cenários. No cenário de primeiro turno, 68% dos eleitores de Sergio Moro disseram que poderiam mudar de opinião “caso algo aconteça”. Ainda segundo a pesquisa, 21% dos que apoiam o ex-juiz votariam em Lula “para acabar com a eleição no primeiro turno”. Esse percentual sobe para 32% quando o entrevistado é questionado se votaria em Bolsonaro “para evitar a vitória de Lula”. A pesquisa também aponta que, na simulação em que o nome de Moro não é testado, Ciro Gomes ganha um ponto percentual (vai de 7% para 8%), Bolsonaro vai de 26% a 28% e Lula, na liderança, avança de 44% para 48% das intenções de voto – nesta configuração, porém, João Doria e Simone Tebet (MDB) não estão incluídos na disputa.
Professor associado da Fundação Dom Cabral e autor do livro “Dinheiro, Eleições e Poder”, Bruno Carazza fez uma série de publicações em seu perfil no Twitter sobre as possíveis consequências da saída de Moro da disputa presidencial. Para o especialista, as próximas pesquisas serão fundamentais para indicar o futuro da terceira via. “Sobre as reviravoltas nas candidaturas da terceira via (a suposta desistência de Moro e o vai-não-vai de Doria e Leite), é bom ficar atento às próximas pesquisas, pois: 1) Os eleitores de Lula e Bolsonaro já têm seu voto consolidado, mas os nem-nem ainda não; 2) O eleitor de Moro, que será disputado por Bolsonaro e pelos terceira via que permanecem no páreo (Doria, Simone Tebet e Leite) diz priorizar honestidade, proposta dos candidatos e situação econômica do país – o que não são pontos fortes de Bolsonaro neste momento. Além disso, nesta altura da campanha, a tese do voto útil em Bolsonaro para evitar uma vitória de Lula no primeiro turno ainda não é a predominante entre os eleitores de Moro. Resumindo: se as próximas pesquisas eleitorais realizadas sem o nome de Moro entre os candidatos não indicarem um crescimento significativo de Doria, Tebet ou Leite, e sim um ganho expressivo para Bolsonaro, pode ser a comprovação definitiva de que a terceira via é inviável”, escreveu.
JP NEWS.