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Impulsionado pelo consumo, cresce produção de orgânicos na capital

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Diante do crescimento no número de pessoas em busca de alimentação saudável, a produção de alimentos orgânicos no Distrito Federal vem conquistando cada vez mais consumidores e, consequentemente, aumentando a área de produção. Só em 2019, o espaço destinado a este cultivo chegou a 466 hectares, conforme dados do relatório do Valor Bruto da Emater-DF. Em 2018, a área destinada ao cultivo foi de 314 hectares.

Dessa área, o alface foi a cultura que ocupou maior espaço, com 60 hectares. Mandioca veio logo atrás com área de produção de 35 hectares, banana, 34 hectares e brócolis ocupando 27 hectares. Batata-doce e cenoura fecharam a produção com um espaço de 20 e 23 hectares, respectivamente.

Coordenadora de Agroecologia da Emater-DF, Isabella Belo disse que esse resultado representa um importante crescimento na área de cultivo. “Existe um crescimento de produção em decorrência da conscientização dos produtores. Os produtores têm buscado ter uma produção agrícola mais sustentável, pensando na saúde deles, da família, do consumidor e do meio ambiente”, explica.

Um dos princípios na produção orgânica e agroecológica é o cultivo de diferentes produtos juntos. Isabella explicou que a integração entre produção animal e vegetal, de forma que se aproveite o esterco dos animais para adubar a terra, também é uma das recomendações.

Segundo a coordenadora de agroecologia da Emater-DF, um dos desafios iniciais é o custo de produção, já que exige um pouco mais do produtor até que haja a adaptação. “Apesar que, ao longo do tempo, quando o produtor consegue ter reequilíbrio da área de produção, diminuindo a incidência de pragas, de doenças, melhorando a qualidade do solo, o custo de produção vai se tornar menor”, disse.

Ao todo, são 263 produtores com certificação no Distrito Federal, fora os produtores que estão em fase de conversão e do convencional para o orgânico e os que estão em transição agroecológica. Nesse último caso, Isabella explica que não significa que eles querem se transformar  em orgânico, mas são produtores que aplicam algumas práticas agroecológicas dentro da propriedade.

Exemplos do crescimento
Certificado em orgânicos desde 2018, Leonardo Cardinali, 32 anos, sentiu o crescimento na procura por orgânicos no último ano. Em sua propriedade, que fica no Núcleo Rural Quebrada dos Guimarães, região do Paranoá, ele cultiva 30 variedades de folhagens. Entre elas, diversas cultivares de alface, couve, cheiro-verde, repolho e agrião.

Apesar da pandemia, que acabou afetando as vendas, ele afirma que continua havendo uma procura considerável. Suas vendas são em grande parte por meio delivery, outra parte comercializada no espaço da agricultura familiar na Ceasa-DF.

Além da motivação pela forma de produção, sem uso de agrotóxicos, fertilizantes e adubos com elementos químicos que possam danificar o solo, o meio ambiente e a saúde das pessoas, tem ainda a parte financeira. “A comercialização é mais valorizada. Em Brasília vem aumentando a conscientização das pessoas sobre esse tipo de alimento e consequentemente o consumo”, conta.

De acordo com a Pesquisa Consumidor Orgânico 2019, organizado pelo Conselho Brasileiro da Produção Orgânica e Sustentável (Organis), 19% da população consomem esses produtos regularmente, com uma média de três vezes por semana. Dois anos antes, o número ficou na casa dos 15%.

Segundo Cardinali, a divulgação de seus produtos é realizada nas redes sociais e em um site que ele criou para mostrar um pouco da sua produção. Com os pedidos em mãos, ele monta as cestas e vai para a rua entregar. Hoje, de acordo com ele, os pedidos chegam de regiões como Asa Sul, Asa Norte, Lago Sul e Lago Norte, Sudoeste, Noroeste, Águas Claras e regiões próximas ao Plano Piloto. A expectativa é aumentar a produção, que atualmente ocupa meio hectare de sua propriedade, que tem 4 hectares.

Já no Núcleo Rural Córrego do Urubu, também na região do Paranoá, conhecida como Abençoada, dona Lindalva Neves, 63 anos, comemora os resultados de 2019 e também os que vem conquistando já neste ano.  “Estou produzindo mais e tendo menos prejuízo do que eu tinha antes. Eu vendia minhas verduras muito barato. Lucro eu vim ter agora, porque antes eu não tinha”, afirma.

Esse resultado positivo ela também credita, além da mudança de hábitos alimentares da sociedade, à valorização de seus produtos por meio da certificação de Orgânico e ao Selo de Boas Práticas conquistados recentemente. “Eu acredito que as pessoas têm valorizado mais os produtos orgânicos. Antes as pessoas reclamavam do preço e eu pagava para produzir. Hoje eu já vejo o dinheiro”, conta ela, que afirma abrir sua propriedade para as pessoas conhecerem sua produção.

Assistência técnica

Na propriedade, Lindalva conta ter auxílio da Emater-DF há três anos. De lá para cá, segundo ela, tudo tem mudado, inclusive os custos com energia. Antes, ela gastava mais porque a propriedade não estava cadastrada como rural.

“Se eu tivesse pedido ajuda da Emater antes, eu já teria lucro há muito mais tempo. A Emater foi um presente de Deus. Eles me auxiliaram para eu reduzir minha energia, me orientam em toda questão técnica, me incluíram na CSA e estão sempre dizendo como devo fazer para ter mais lucro e produzir mais”, diz. Sobre os seu produtos ela diz: “Na minha chácara não tem nada de química e nada de veneno. Tudo aqui você pode comer sem medo”.

Na propriedade, ela tem oito estufas onde produz hortaliças como alface, cheiro-verde, rúcula, hortelã, manjericão, agrião e tomate cereja. Apesar de ter tido problemas com as últimas chuvas, Lindalva diz que seu crescimento do último ano ficou em 50%. Sua comercialização é realizada em feiras e por drive-thru em sua chácara, onde as pessoas vão buscar os pedidos.

De consumidor a coagricultor

Por meio da Emater-DF, ela conta que também passou a entregar nove cestas por semana pela CSA (Comunidades que Sustentam a Agricultura). Na CSA, o objetivo da ação é o escoamento de alimentos agroecológicos de forma direta ao consumidor. Quem escolhe fazer parte de uma CSA deixa de ser um consumidor e se torna um coagricultor.

Neste caso, o consumidor que faz parte de uma CSA passa a colaborar para o desenvolvimento sustentável da região, valorizando a produção local, conhecendo de perto de onde vem o seu próprio alimento e podendo também participar da produção. Os coagricultores, que são consumidores que apostam na agricultura familiar produtora de orgânicos, recebem semanalmente, no Ponto de Convivência da CSA, os alimentos colhidos.

A Emater-DF
Empresa pública que atua na promoção do desenvolvimento rural sustentável e da segurança alimentar, prestando assistência técnica e extensão rural a mais de 18 mil produtores do DF e Entorno. Por ano, realiza cerca de 150 mil atendimentos, por meio de ações como oficinas, cursos, visitas técnicas, dias de campo e reuniões técnicas.

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