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No STF, PM réu pelo 8/1 vê descoordenação de inteligência e cita erros

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O ex-comandante-geral da Polícia Militar do Distrito Federal (PMDF) coronel Fábio Augusto Vieira, réu pelo 8 de Janeiro, negou a tese de “apagão de inteligência” da segurança de Brasília nos atos antidemocráticos. Segundo ele, houve, na verdade, uma “descoordenação de inteligência”. Sete militares da PMDF denunciados pela Procuradoria-Geral da República (PGR) por suposta omissão no 8/1 começam a prestar depoimento ao Supremo Tribunal Federal (STF). Fábio foi o primeiro a falar, nessa sexta-feira (17/5).

O réu se defendeu de acusações de contaminação ideológica no alto comando da PMDF, rebateu responsabilidades pelas invasões aos prédios da Praça dos Três Poderes e deu esclarecimentos e avaliações sobre falhas no planejamento. Questionado sobre o possível “apagão de inteligência”, ele avaliou citando informações recebidas no dia 8.

“O que eu acho que houve não deve significar a mesma coisa. Foi descoordenação de inteligência. Eu não recebi informações processadas nem tratadas. O que por vezes vi foram frações de inteligência que diziam: ‘O manifestante tacou pedra no Supremo’. Isso já aconteceu. O que me interessa era saber se o manifestante tinha uma pedra. Isso não me foi passado”, reclamou.

As chamadas “frações de inteligência” eram enviadas pela subsecretaria de Inteligência da Secretaria de Segurança Pública do DF (SSP-DF), como afirmado pela então titular da pasta, Marília Ferreira Alencar, na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Câmara Legislativa do DF. Aos deputados, ela afirmou que a inteligência não fracassou em relação à tentativa de golpe, principalmente porque agiu enviando “várias frações de inteligência”.

Fábio também falou na audiência no STF que até fazia parte de grupos de WhatsApp com membros das forças de segurança que repassavam informações, mas que não lia tudo, pois não era ele o responsável. “Tínhamos chefe da inteligências nesses grupos para ir me relatando.”

Mensagens contra urnas

Já sobre as trocas de mensagens com teor golpista, desacreditando o processo eleitoral após a vitória de Lula (PT), Fábio defendeu que informações falsas eram compartilhadas para gerar “alerta” na corporação. A denúncia da PGR contra o ex-comandante-geral mostra o militar afirmando que os órgãos eleitorais tiveram o “descaramento de fraudar que em uma urna um candidato somente tenha recebido zero votos”.

Fábio tentou argumentar ao STF que não falou sobre nenhum candidato, seja Lula ou Bolsonaro, mas apenas achou estranho o fato de que “estava sendo divulgado na imprensa” que havia urna sem voto em alguns candidatos.

Réu pelo 8/1, ex-comandante da PM prestou depoimento no STF elencando erros e se defendendo de acusações, como contaminação ideológica

O ex-comandante-geral ainda questionado pela PGR sobre mensagem em que diz “a cobra vai fumar”, em resposta a um vídeo com informações falsas sobre suposta fraude nas urnas, enviado por Marcelo Casimiro, então titular do 1º Comando de Policiamento Regional (CPR).

“Eu não tenho dúvidas da confiabilidade do sistema eleitoral, em nenhum momento tive. Qualquer mensagem que eu tenha recebido ou encaminhado era para gerar alerta ao Casimiro ou ao Klepter na questão funcional. Mensagens, sejam verdadeiras ou fakes, causam impacto no acampamento. E nós fomos testemunhas disso”, alegou Fábio.

Ele ainda argumentou que a expressão usada era um regionalismo. “Essa mensagem dizendo ‘a cobra vai fumar’, em Goiás, a gente sempre usa quando os ânimos vão exaltar. Não fiz referência ao meu pensamento nessa mensagem com Casimiro. O jargão onde eu morava, em Goiás, era de que a situação podia sair do controle. Era para falar: ‘Os ânimos vão se exaltar e o senhor esteja atento, coronel, esteja alerta’”, justificou.


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A PGR enfatizou, na denúncia contra os militares, que os conceitos apresentados por Casimiro ao então comandante-geral da PMDF tinham explicações “equivocadas e incompatíveis com a ordem constitucional”. Segundo a acusação, ainda em “perspectiva golpista”, Casimiro chegou a compartilhar: “Precisamos de uma intervenção federal, com a manutenção de Bolsonaro no poder!”.


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Para a PGR, as desinformações que circulavam entre o alto comando da PMDF “demonstravam expectativa de mobilização popular para garantir Jair Bolsonaro no poder, em desrespeito ao resultado das eleições presidenciais”. Fábio, porém, defendeu também ter enviado mensagens que ressaltam seu “perfil técnico”. Sempre procurei não me envolver em questões políticas para ter tranquilidade para trabalhar”, comentou, na audiência. Ele citou ainda ter dito para Casimiro: “Somos uma instituição de Estado, que temos que cumprir nosso papel, independente de posição política”.


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Em outros pontos do depoimento, Fábio criticou a operação da Polícia Federal que prendeu José Acácio Serere Xavante, conhecido como cacique Tsereré. “A PF decidiu fazer prisão de um líder indígena, que também era destaque no acampamento, e não comunicou a PM, não avaliou os reflexos disso”, disse. Após a prisão, manifestantes extremistas entraram em confronto com as forças de segurança, tentaram invadir a sede da PF, queimaram carros, ônibus e vandalizaram Brasília.

Sobre o planejamento para conter o 8 de Janeiro, Fábio afirmou que não tomou conhecimento dos detalhes do Protocolo de Ações Integradas (PAI), já que o “comandante-geral não participa das reuniões”, atribuiu a responsabilidade pela organização para o ato, pela PMDF, para o Departamento de Operações (DOP) e disse que sequer soube da reunião na véspera dos atos antidemocráticos em que a PF alerta a SSP-DF sobre o risco de invasões aos prédios públicos.

O depoimento durou mais de cinco horas. Ele foi questionado pela PGR e pelas defesas de outros PMs. As audiências com os oficiais da PMDF denunciados retornam na próxima segunda-feira (20/5), às 10h, com a oitiva de Klepter Rosa Gonçalves, também ex-comandante da corporação.

Veja quem são os réus denunciados:

Fábio Augusto Vieira, ex-comandante da Polícia Militar do Distrito Federal (PMDF);
Klepter Rosa Gonçalves, também ex-comandante;
Jorge Eduardo Naime, ex-comandante de operações;
Paulo José Ferreira, chefe interino do Departamento de Operações (DOP) no 8 de Janeiro;
Marcelo Casimiro, então titular do 1º Comando de Policiamento Regional (CPR);
Rafael Pereira Martins, chefe de um dos destacamentos do Batalhão de Polícia de Choque da PMDF na data;
Flávio Silvestre de Alencar, major que chegou a ser preso duas vezes pela Polícia Federal (PF) no âmbito das investigações sobre supostas omissões;


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